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{Resenha} O Inquisidor

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Autor: Catherine Jinks
Editora: Contexto
Ano: 2017
Sinopse: Em 1318, padre Augustin, um novo inquisidor, chega a Lazet, na França, disposto a rever processos antigos do Santo Ofício. Pouco tempo depois é brutalmente assassinado e seu subalterno, padre Bernard, é encarregado da investigação. No entanto, ao tentar proteger quatro mulheres, ele próprio se torna suspeito por seus pares. Acusado de assassinato e perseguido como herege, Bernard terá que lutar por sua vida e a de suas protegidas.
As violências praticadas em nome da religião, o intrincado jogo de interesses dos poderosos, o fanatismo, a caça às bruxas e as relações marcadas por luxúria, amor e traição fazem deste romance histórico uma narrativa arrebatadora e – por que não? – terrivelmente atual. 

Resenha:

O Inquisidor é uma romance histórico que se passa na França do século XIV, mostrando o lado mais escuro da Inquisição, as questões hierárquicas dentro da Igreja e as crenças mais absurdas que eram usadas nos julgamentos de heresia.

Padre Bernard trabalhava com o Santo Ofício investigando e identificando os “inimigos da Igreja”, os “defensores da doutrina herética” em Lazet, na França. Em um dado momento, ele solicita ajuda nesta tarefa, e então padre Augustin é enviado para Lazet, onde ficou menos de três meses antes de ser assassinado.

Padre Augustin desconfiava de tudo e de todos, até mesmo do próprio padre Bernard e seu possível envolvimento com pessoas hereges. Isso porque padre Bernard fazia o possível para ter boas relações com o povo de Lazet, pois assim ficava mais fácil se manter informado sobre tudo o que acontecia na cidade.

Como superior, padre Augustin parecia querer questionar o trabalho de seu antecessor, padre Jacques, solicitando todos os seus registros para analisar, encontrando assim quatro suspeitos identificados como subornadores de padre Jacques, além de prender toda a população de uma aldeia, após um homem ter acusado quase todos os seus habitantes de heresia.

Após aumentar consideravelmente o volume de trabalho de padre Bernard, padre Augustin é brutalmente assassinado durante uma viagem, quando os corpos dele e de seus companheiros são esquartejados e espalhados pelo bosque para dificultar a identificação de todos.

“O senhor deve ter ouvido falar, sem dúvida, que padre Augustin e seus guarda-costas foram feitos em pedaços. Talvez o senhor não atine totalmente, porém, que, quando emprego a expressão “feitos em pedaços”, não estou usando uma hipérbole, mas uma descrição literal e precisa do estado das vítimas. Seus corpos haviam sido divididos em pequenas porções espalhadas como sementes, não sobrara nem um pedaço da roupa deles. O translatio que poderia ser empregado ao estado dos defuntos é o de uma cripta pilhada – ou talvez até do Vale dos Ossos –, só que esses ossos não estavam limpos e secos. Estavam cobertos de sangue e carne pútrida e, sob um manto de moscas, clamavam aos céus por vingança.”

E assim começa a investigação imposta a padre Bernard, para descobrir o que aconteceu com seu superior. Durante esse processo, ele descobre que as viagens misteriosas de padre Augustin para Casseras estavam relacionadas a quatro mulheres que viviam lá, que escondem segredos que podem comprometê-las como hereges, se mal interpretadas, e que também comprometiam o próprio padre Augustin.

Johanna, uma viúva com “voz de uma freira e olhos de um juiz”, muito bonita, postura firme, apesar das roupas simples e mãos sujas, cuja presença de alguma forma impressionou padre Bernard. Vitália, uma velha senhora, bastante doente, que já ficava apenas na cama. Alcaya, amiga da família, adorava ler e tinha alguns livros curiosos que chamaram a atenção do padre. E finalmente, Babilônia, a jovem filha de Johanna.

Segundo Johanna, as visitas de padre Augustin se deviam a uma disputa de propriedade à qual ela estava envolvida e o padre a estaria aconselhando. Mas padre Augustin teria deixado um documento em que dizia que Babilônia estaria possuída por um demônio, e padre Bernard, como um bom inquisidor, precisava saber se isso seria verdade, e o que descobriu foi algo muito mais chocante sobre padre Augustin.

“Em resposta a meu interrogatório, delicado, mas persistente, ela revelou que a filha, uma moça doce e linda, nunca esteve “muito bem”. Mesmo quando criança, tinha pesadelos, ataques súbitos de cólera, períodos de letargia anormais. Os sermões severos faziam que chorasse de maneira incontrolável e mutilasse a própria carne. Aos 12 anos, ela havia tido uma “visão de diabos”, e gritava toda vez que seu primo se aproximava dela, dizendo que ele estava cercado por um “halo escuro”. Seus problemas pioraram com o passar dos anos: ela caía no chão, cuspindo e gritando e mordendo a língua. Às vezes, se sentava nos cantos, balançando-se para a frente e para trás, falando de maneira incoerente; às vezes gritava sem parar, sem razão aparente.”

As pessoas tinham medo de Babilônia, achavam que ela realmente estava tomada por um demônio, jogavam pedras e cuspiam nela na rua quando estava em crise (porque acredito que a jovem sofria de algum transtorno mental, obviamente, inclusive tinha convulsões que a faziam morder a língua), mas Alcaya acreditava que ela era especial, próxima a Deus, e era a única que conseguia acalmá-la.

Padre Bernard se envolve com as mulheres tanto quanto padre Augustin se envolveu anteriormente, e ele mesmo passa a ser acusado de heresia pelo novo padre que chega para substituir Augustin, (na minha opinião ainda mais doido), Pierre-Julien Fauré, que achava que todo mundo estava envolvido com magia, todo mundo era bruxo ou bruxa, e toda a sua pesquisa se baseava nesse assunto.

“Então perguntei a mim mesmo: foi isso que encontrei na colina? O nada? Eu tinha a sensação de ter encontrado o amor, e todos sabemos que Deus é amor. Mas que tipo de amor? E se eu tivesse realmente experimentado o amor de Deus, então, talvez, por eu tê-lo experimentado (porque acredito que estava consciente de meu próprio ser o tempo todo), não fiquei amorfo, formado e transformado de verdade na uniformidade divina que nos faz uno com Deus. Eu estava tão confuso!”

O livro foi escrito na forma de uma carta redigida por padre Bernard, buscando sua absolvição com os maiores superiores da Igreja da época, como uma confissão, em que conta sua versão de toda a história, incluindo seus erros, acertos, pensamentos, tudo muito rico em detalhes.

“Reverendo padre, eu lhe contei tudo o que há para contar. Contei-lhe uma história sangrenta de morte e de corrupção, mas esses pecados não foram meus. Embora eu tenha pecado contra meus votos de castidade e de obediência, não pequei contra a Igreja Santa e Apostólica. Ainda assim meus inimigos me censuram sempre; eles são corruptos e falam maldosamente; a violência os cobre como uma roupa. Eles buscam minha alma, porque a maldade está em sua morada.”

Com sua narrativa, podemos imaginar com todos os detalhes e imagens como eram realizadas as inquisições pela Igreja, a corrupção que sempre existiu dentro da instituição, os postos hierárquicos e o autoritarismo extremo presente o tempo todo, a provável falta de conhecimento dos transtornos mentais, que se transformavam em demônios, levando tantas pessoas à morte por uma heresia que na grande maioria das vezes era apenas falta de conhecimento e discernimento dos inquisidores.

O começo do livro foi um pouco arrastado para mim, mas quando começa a real investigação e as revelações começam a aparecer, a leitura me prendeu bem mais, me deixando bastante curiosa em relação ao desfecho. Para quem gosta de romances históricos, investigações, conhecer mais sobre a Igreja Católica e sua história da época da Inquisição, e principalmente para que tem estômago forte para lidar com corrupção, injustiças, e as maiores doidices cometidas por estes inquisidores, essa história tem tudo para te agradar também!


“Tentei me convencer de que essa seria a melhor solução. O amor era uma espécie de loucura – uma doença que passaria. Há um tempo para amar, e um tempo para odiar. O que eu ganharia em abandonar o trabalho de toda uma vida por uma mulher que eu mal conhecia? Por um amor que era tanto angústia quanto felicidade?”

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