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Channel: As meninas que leem livros
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{Resenha} Bem atrás de você

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Autor: Lisa Gardner
Editora: Gutenberg
Ano: 2018
Sinopse: A infância de Sharlah foi bastante traumática: quando tinha 5 anos, ela presenciou o próprio pai, viciado em drogas, matar a sua mãe e então avançar contra ela e seu irmão mais velho, Telly. Mas o garoto, então com 9 anos, atingiu a cabeça do pai com um bastão de beisebol, salvando os dois. Os irmãos foram separados, e agora, oito anos depois, Sharlah foi adotada por Pierce Quincy, oficial aposentado do FBI e especialista em perfis criminosos, e sua companheira, a policial Rainie Conner.
Um dia, no que parece ter sido um inexplicado acesso de raiva, Telly ressurge como o principal suspeito de matar um casal e assassinar duas pessoas em um posto de gasolina. O jovem, então, foge para um bosque de Oregon, dando início a uma caçada frenética. Enquanto trabalham com a polícia local para traçar um perfil psicológico do assassino, Quincy e Rainie tentam proteger Sharlah, pois, pelo que tudo indica, ela pode ser a próxima vítima.
Resenha:

Se o enredo já me pareceu interessante apenas lendo a sinopse, a história foi me prendendo ainda mais conforme o seu desenvolvimento. A autora nos faz ter dúvidas o tempo todo sobre quem é bom ou mau, herói ou vilão, culpado ou inocente.

Os capítulos são narrados em terceira pessoa, no geral. Porém, alguns deles são narrados em primeira pessoa, ora com as impressões de Telly, ora com as impressões de Sharlah.

Após a morte dos pais, os irmãos foram separados, já que apesar de salvar a vida de Sharlah matando o pai, Telly acabou acertando o braço da irmã com o bastão de beisebol e acharam que talvez ele acabasse representando um risco para ela.

“Separar as crianças. Não sei dizer quem tomou essa decisão, mas eu teria aconselhado contra ela. Oito anos atrás, Telly Ray Nash era um garoto problemático de 9 anos de idade que não tinha muitos pontos a seu favor. Mas ele tinha a irmã. Pelo que observei, ele a amava e se importava genuinamente com ela. E ela também o amava. Por que o sistema iria cortar esse relacionamento, eu não faço ideia. Mas isso provavelmente fraturou um dos únicos laços verdadeiros na vida do jovem Telly. Depois disso, ele teria ficado ainda mais raivoso e à deriva.”

Os dois passaram por diversos lares antes de acabarem com os pais que estão nesse momento. Sharlah vivia com Quincy, Rainie e Luka. Quincy era um especialista em perfis criminais do FBI aposentado e Rainie delegada, também aposentada. Agora eles prestavam consultoria para o departamento de polícia de Bakersville. Ambos desenvolveram um sentimento muito forte por Sharlah, e estavam dando andamento no processo de adoção da menina. Luka era um pastor alemão também “aposentado” da polícia, o melhor amigo e companheiro de Sharlah, que tinha um histórico de tendências antissociais.

“Eu tenho sorte. Sei disso. E estou me esforçando bastante para colar meus cacos e melhorar e controlar meus impulsos.
Mas em alguns dias ainda é difícil ser eu mesma.”

Telly vivia com Frank e Sandra Duvall. Frank era um professor de ensino médio e Sandra uma dona de casa com um passado misterioso, que fazia com que ela se identificasse bastante com o garoto. O filho deles havia ido estudar em outra cidade, e eles decidiram cuidar de Telly como um projeto, para ensiná-lo a se virar, antes que fizesse 18 anos e tivesse que aprender sozinho. Sandra estava ensinando Telly a cozinhar, e Frank o ensinou a atirar com suas armas. Mas agora o casal e mais duas pessoas estavam mortas, e Telly foi visto na câmera de segurança, tornando difícil negar que ele tenha cometido os crimes.

“Também sabiam que essa era a minha última oportunidade. Garoto de 17 anos, dentro de um ano estaria fora do sistema. Os Duvall eram minha última chance de ser parte de algo. Não uma criança adotada. Eu já tinha entrado no sistema velho demais para nutrir esses sonhos dourados. Mas se fizesse tudo direitinho, confiasse um pouco e, diabos, melhorasse meu comportamento, talvez pudesse ter uma família de acolhimento permanente. Um lugar aonde ir todo Natal, todo Dia de Ação de Graças. Melhor ainda, conforme minha agente de condicional explicou, poderia contar com orientação para todas as “Grandes Mudanças” que estavam por vir – conquistar um emprego, arrumar um lugar só meu, pagar minhas próprias contas. Mundo real logo à frente. Um par de figuras parentais ao meu lado para me apoiar seria uma enorme ajuda. Ou pelo menos foi o que a agente de condicional me disse.”

Apesar do passado de Telly, alguns fatos não faziam muito sentido no assassinato de Frank e Sandra. Muito menos nas mortes do posto de gasolina. Ainda assim, o adolescente estava foragido, e a busca por ele movimentou toda a polícia, alguns voluntários e até sua própria irmã.

Tanto Telly quanto Sharlah desenvolveram transtorno opositivo-desafiador. Sharlah também tinha ansiedade, insônia, e havia uma suspeita de que o garoto também sofresse de transtorno de apego reativo e transtorno explosivo intermitente. Mas apesar disso tudo, Telly tinha uma personalidade protetora. Os irmãos viviam à sombra de um passado violento que gerou consequências com as quais eles ainda estavam aprendendo a lidar. Principalmente Telly, por se sentir confuso quanto à sua própria natureza: herói ou vilão?

“Se existe o bem dentro de mim, por que sinto como se o mal estivesse sempre vencendo?”

Havia a preocupação de que Telly estivesse indo atrás da irmã e era impossível compreender seus motivos. Quando criança, Telly praticamente criou Sharlah, cuidava, alimentava, lia para ela na biblioteca, e tentava mantê-la o mais distante possível da violência em sua casa. Porém, foram encontradas fotos de Sharlah com uma mira desenhada em seu rosto, no meio das coisas de Telly. Sharlah precisava ser protegida, mas queria encontrar o irmão a todo custo.

“Você consegue, Telly. Talvez não perfeitamente. E talvez precise cometer alguns erros primeiro. Mas eu vejo algo a mais em você. Você salvou sua irmã. Agora só precisa descobrir como salvar a si mesmo. Mais um ano, Telly. E então vai depender só de você: que tipo de homem você será?”

Apesar de algumas palavras traduzidas de forma um pouco estranha e alguns errinhos de digitação, é uma leitura muito tranquila, não dá vontade de fechar o livro enquanto não descobrimos todos os mistérios que envolvem esses assassinatos.

Eu nunca havia lido nada da autora, e gostei muito da forma como ela descreve todos os acontecimentos, da criação de cada um dos personagens, da pesquisa sobre tantos transtornos de personalidade, e do final surpreendente! Todas as características que me fazem amar uma história! Foi uma grata surpresa e espero ter a oportunidade de ler mais livros da autora em breve.


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