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{Resenha} Depois da Queda

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Autor: Dennis Lehane 
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2018
Sinopse: Depois de ter um colapso nervoso ao vivo, durante uma transmissão de TV, Rachel Childs, antes uma jornalista obstinada que desbravava o mundo, passa a viver totalmente reclusa. Mesmo assim, ela leva uma vida ideal, com um marido que parece ideal. Numa tarde chuvosa, porém, um encontro fortuito abala profundamente aquela vida perfeita, assim como seu casamento e ela própria. Embrenhada numa conspiração cheia de mentiras, violência e loucura, Rachel precisa encontrar forças para superar medos inimagináveis e verdades brutais.
Ao mesmo tempo emocionante, sofisticado, romântico e cheio de suspense e tensões, Depois da queda é Dennis Lehane em sua melhor forma.


Resenha:

Dennis Lehane é sem dúvidas um dos meus autores favoritos, e já escrevi uma resenha de um livro dele aqui. O autor é conhecido principalmente pelas obras Sobre Meninos e Lobos e Ilha do Medo (ambos ficaram famosos devido às suas adaptações para o cinema). Inclusive recomendo a leitura e os filmes também!

Em Depois da Queda, conhecemos a protagonista Rachel Childs, uma jornalista de sucesso na televisão, que tinha a grande frustração não saber quem era seu pai. Sua mãe faleceu sem nunca revelar essa informação para a filha. No começo da história, o médico que realizou seu parto disse que lhe contaria, se ela aceitasse escrever um artigo o inocentando de uma série de denúncias de assédio, devido às quais ele havia perdido a licença para praticar sua profissão.

“Quanto mais Rachel revirava as atas do tribunal e os arquivos que Browner tinha entregado a ela, pior a coisa ficava. Se o dr. Felix Browner não era um estuprador em série, tinha produzido a melhor imitação que Rachel havia encontrado na vida.”

Ela escreveu a matéria, depois de pesquisar a fundo, concluindo que ele realmente era um estuprador em série e que seria preso assim que ela fosse publicada. O jogo virou e Rachel conseguiu o nome de seu pai, com a promessa de que não publicaria seu artigo. O nome dado pelo dr. Browner era Jeremy James.

Não foi difícil encontrá-lo, e Jeremy James e sua esposa a receberam em sua casa, conversaram bastante sobre o passado de sua mãe e a relação do casal, e no fim ele revelou que na verdade não era seu pai, o que já teria sido confirmado por um simples exame de sangue. Ainda assim, ele não havia abandonado sua filha, simplesmente foi colocado para fora da casa e sua mãe nunca mais tocou no assunto.

“E foi o que ela fez. Se tivesse só posto você para fora de casa, acho que você e eu teríamos acabado dando um jeito. Mas quando ela resolveu eliminar você da nossa vida, você foi apagado sem deixar sinal. Os mortos têm nomes e sepulturas. Os eliminados nunca sequer existiram.”

Rachel continuou tendo um relacionamento de amizade e respeito com Jeremy James até sua morte, mas não desistiu de encontrar seu verdadeiro pai. Tentou inclusive contratar um investigador particular e assim conheceu Brian Delacroix. Porém, a princípio, ele não pôde encontrá-lo, pois Rachel não tinha informações o suficiente para iniciar uma busca mais profunda e eles acabaram perdendo o contato por anos.

Nesse meio tempo, Rachel se casou com um jornalista também famoso e que também viajava muito a trabalho. Após ela sofrer uma crise de pânico ao vivo durante a cobertura de um terremoto no Haiti, sua carreira desmoronou, e consequentemente, seu casamento também, visto que o sucesso de ambos era a única coisa que mantinha o casal junto.

Sebastian era realmente um cara insuportável e não soube (nem quis) lidar com a doença da esposa, que só piorou depois da separação. Dessa forma, Rachel se tornou reclusa e quando tentava sair, tinha crises de pânico e momentos de ausência, além de possivelmente ter desenvolvido algum grau de alcoolismo.

“A partir de então Rachel não saiu mais de casa. Chegou quase a ficar sem comida. Ficou sem vinho. Depois sem vodca. Não tinha mais sites para entrar na internet, nem programas de TV para assistir. Então Sebastian ligou para lembrar que a audiência do divórcio estava marcada para a terça-feira, 17 de maio, às três e meia da tarde.”

Após assinar o divórcio, Rachel para em um bar, onde começa a ter outra crise. Além disso, recebe uma bebida de um homem misterioso, e logo após, é assediada por um cara que estava bêbado e discutindo com a namorada dentro do bar. Nesse momento, Brian aparece e a salva daquela situação.

Eles foram para outro bar e continuaram a noite, a conversa, se conhecendo melhor e se atualizando sobre a vida do outro. O autor descreveu os primeiros encontros do casal de forma tão real! Os diálogos, os personagens assumindo suas imperfeições, seus medos, seus erros, como duas pessoas de verdade, que não estão fingindo nada para tentar impressionar.

Com o tempo, Brian foi se mostrando alguém completamente diferente de Sebastian. Alguém que tinha empatia com a doença de Rachel e que estava disposto a ajudá-la, respeitando seu próprio tempo e seus próprios limites. Agora ele trabalhava com negócios de família, e tinha um sócio, Caleb, com quem dividia o escritório. Viajava bastante a trabalho, mas sempre dava assistência à namorada, e logo fizeram uma pequena cerimônia de casamento.

Rachel havia se tornado uma pessoa muito desconfiada após a doença, porém começou a ver Brian pelas ruas enquanto ele dizia estar viajando, ele dizia ter um sósia na cidade e mandava fotos que provavam onde ele realmente estava, porém ela sabia que havia algo de errado.

Dennis Lehane conseguiu criar um personagem muito cativante, aqueles mocinhos das histórias por quem as leitoras se apaixonam e que gostariam de esbarrar por aí na vida real. Porém, Brian Delacroix esconde um mistério, e Rachel não descansa até desvendar e descobrir todos os segredos de seu marido.

“Ele era um homem bom. O melhor homem que ela conhecia. Nem por isso o melhor do mundo, só o melhor para ela. Com a exceção do Avistamento, como agora chamava o episódio, ele jamais lhe dera o menor motivo de suspeita. Sempre que Rachel ficava errática, ele compreendia. Assustada, ele a confortava. Irracional, conseguia entender seus sentimentos. Frenética, ele se mostrava paciente. E, quando chegou o momento de Rachel arriscar-se novamente no mundo, Brian reconheceu que estava na hora e conduziu seus primeiros passos. Segurou a mão dela, convenceu-a de que estava em segurança. Fez-se presente. Eles podiam tanto seguir em frente como não seguir, mas ela estava protegida, em plena segurança.”

Brian, com todas as suas falhas e defeitos, foi capaz de ajudar Rachel a superar todos os seus medos, talvez até sem que ela percebesse, quando ela passou a investigar seu marido e o motivo de suas mentiras.

O autor consegue prender o leitor com doses de mistério e momentos de ação, além de nos deixar em dúvida, quanto a estarmos torcendo para o mocinho ou para o bandido. Adoro a forma como ele escreve e continuo achando Dennis Lehane um dos melhores autores da atualidade! Se você é fã de thrillers, como eu, não pode deixar de conferir!


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