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Channel: As meninas que leem livros
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{Resenha} Longe de Casa

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Título Original: Far from home
Autora: Malala Yousafzai
Editora: Seguinte
Sinopse: Neste livro, a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da paz conta sua história de migração e dá voz a garotas que estão entre os milhões de refugiados pelo mundo.
Ao longo de sua jornada, a paquistanesa Malala Yousafzai visitou uma série de campos de refugiados, o que a levou a pensar sobre sua própria condição de migrante — primeiro dentro de seu país, ainda quando criança, e depois como ativista internacional, livre para viajar para qualquer canto do mundo, exceto sua terra natal.
Em Longe de casa, que é ao mesmo tempo um livro de memórias e uma narrativa coletiva, Malala explora sua própria trajetória de vida e apresenta as histórias de nove garotas de várias partes do mundo, do Oriente Médio à América Latina, que tiveram que deixar para trás sua comunidade, seus parentes e o único lar que conheciam.
Numa época de crises migratórias, guerras e disputas por fronteiras, Malala nos lembra que os 68,5 milhões de deslocados no mundo são mais do que uma estatística — cada um deles é uma pessoa com suas próprias vivências, sonhos e esperanças. 

Li Eu sou Malala em 2014. Foi nesse livro que eu percebi o quanto eu era alienada de tudo o que acontecia fora do meu país. Embora soubesse às vezes dos conflitos que aconteciam em um ou outro canto do mundo, assisti as notícias da morte de Osama Bin Laden e outros líderes autoritaristas, como grande parte das pessoas... Mas nunca pensei de fato em quem vivia naqueles lugares, em quem conviveu com o terror e o medo. 

Malala abre o livro contando um pouco sobre sua história, embora ela não tenha sido uma refugiada. Mas como as meninas que contam suas histórias no livro, ela também desconhecia a paz. 

Eu chorei. Chorei mesmo e não falo isso com vergonha. Não foi por causa de um romance ou de um drama fictício, mas por essas meninas e tantas outras que, como elas, também não conhecem a paz. Meninas que perderam tudo o que amavam e conheciam, muitas vezes. E que são tão mal julgadas por pessoas preconceituosas e sem compaixão. 
“Nunca deixa de me chocar que as pessoas considerem a paz algo garantido. Sou grata por ela todos os dias. Nem todo mundo tem essa sorte. Milhões de homens, mulheres e crianças testemunham guerras diariamente. A realidade dessas pessoas envolve violência, lares destruídos, vidas inocentes perdidas. A única escolha que têm para se manter seguras é ir embora. Só que não é exatamente uma escolha.” 
Imagine você, residente de uma cidade qualquer do Brasil. Imagine que o Brasil se torne uma ditadura, um autoritarista tome o poder e considere que você e milhares de pessoas não tem direito de se vestir assim ou assado, não tem direito a ter a fé que tem ou direito de ir à escola. Imagine que pessoas começam a agredir você e sua família por serem como são. Imaginem ver um deles ser agredido até a morte simplesmente por considerarem que sua família não tem o direito de estar na casa que sempre foi dela. 

Imagine acordar com bombas explodindo a casa de seu vizinho e você ouvi-los agonizando. 

Esses são apenas alguns dos horrores que as mulheres e meninas que contam suas histórias nesse livro, viveram. Isso pode não estar muito longe de você, que acorda com tiroteios entre traficantes e policiais debaixo de sua janela, não é? Para você que a fome já pode ter sido uma realidade diária em algum momento, ou ainda é, não sei. 

E, por mais que a vida seja dura onde estão agora, depois de não ter outra escolha – mesmo não tendo outra alternativa – ainda é melhor do que o lugar que consideravam seus lares, onde estava tudo o que amavam. Viram, da noite para o dia, suas vilas serem destruídas. Perderam escolas e amigos e oportunidades de vida que nos são tão comuns. 

Apesar de serem histórias chocantes, também nos trazem a esperança. Esperança de que ainda haverá um amanhã, de que ainda há sonhos e lutas em busca deles. De que ainda existem pessoas boas no mundo para estender a mão a quem precisa. 

Que nos mostram que as dificuldades podem até existir. Que o medo pode irromper a qualquer momento. Mas há a resistência. 

Longe da casa reúne a história de 10 jovens refugiadas (exceto uma) que Malala conheceu em suas viagens a campos de refugiados ao redor do mundo, pois ela realiza trabalhos com instituições que cuidam das pessoas que deixaram sua cidade natal. Algumas delas trabalham hoje na ONU realizando seus próprios projetos, outras trabalham dentro dos próprios campos para melhorar a vida pelo menos um pouquinho de todos que ali moram. É incrível, forte e sensível. Toca lá no fundo da alma e não há escolha a não ser se entregar a emoção. 

E, é claro, também há a história da própria Malala. 

Leitura grandiosa, permeada de luta e esperança. Perceba o quão privilegiado somos e faça o que estiver ao seu alcance, mesmo que pouco, para tornar a vida do outro apenas um pouquinho mais suportável.

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