Confesso que não tenho o hábito de ler sinopses, julgo o livro pela capa mesmo - e que Nossa Senhora dos Livros Maravilhosos com Capas Ruins perdoe minha alma, mas essa é a verdade. Com A Extraordinária Viagem do Faquir que Ficou Preso em um Armário Ikea, não podia ter sido diferente. Com um título inusitado, um design fofo e "best seller na França" escrito em letras garrafais logo no topo da capa (algo que dá certa expectativa, sejamos sinceros), o livro - ou a capa - me ganhou na hora. Vamos ver se fiz bem ou fiz mal em me apaixonar à primeira vista.
A Extraordinária *insira aqui restante do título* conta a história de um faquir que STOP! PARA TUDO! Antes de tudo: o que é um faquir, heim? Segundo o amigo google, faquir é aquele que pratica mendicância e submete-se a uma vida de privações, procurando atingir a perfeição espiritual. Já segundo o livro, faquir é um trapaceiro que realiza truques e mais truques a fim de convencer os outros de que possui poderes sobrenaturais e, assim, com pouco esforço, ganhar a vida.
Então, voltando à história: o faquir Ajatashatru (o livro diz que lê-se acha já o tatu ou como você quiser) engana toda sua pobre aldeia dizendo que está com sérios problemas de saúde e precisa de uma nova cama de 15 mil pregos; sendo assim, seus seguidores fiéis custeiam sua passagem de ida e volta para Paris. Com uma nota de 100 euros impressa só de um lado, Aja (apelido carinhoso que eu dei) aplica, em Gustave, um taxista cigano, seu primeiro golpe. Após perceber que foi vítima de uma trapaça, Gustave promete a si mesmo acabar com a raça do indiano larápio (eita!) - o que ainda vai render muitos acontecimentos até o fim do livro.
E foi assim que o faquir criou seu primeiro inimigo. Enquanto o cigano fazia juras de ódio eterno, Aja desfrutava de um belo lanche com Marie, uma francesa encantadora que ele conheceu na fila do restaurante - após dar um pequeno golpe e surrupiar 20 euros da mulher, diga-se de passagem. Marie constitui uma personagem importante na trama: ela é a primeira a fazer o indiano pensar melhor sobre sua maneira de levar a vida. Ela é aquela que dá o pontapé inicial na mudança radical que acontecerá com a personalidade de Aja ao decorrer do livro. A segunda personagem a fazer Aja repensar seus valores é Haashim, um dos clandestinos que ele conheceu enquanto estava dentro do armário Ikea, num caminhão com destino ao Reino Unido. Não, não vou dizer como o faquir vai parar dentro do armário.
O livro conta as aventuras inacreditáveis que o indiano viveu nos outros 4 países que (sem querer) acabou visitando como um clandestino involuntário e de que modo essas aventuras foram moldando seu caráter. Entre uma piadinha e outra (que não me fizeram rir, aliás), o livro toma um ar mais sério e discorre sobre a questão da clandestinidade na Europa, sobre a injustiça que assola o mundo inteiro.
"Por que alguns nasciam aqui e outros lá? Por que alguns tinham tudo e outros nada? Por que alguns viviam e outros, sempre os mesmos, só tinham o direito de se calar e morrer?"
O autor consegue falar sobre isso sem tornar a leitura melancólica (essa citação é uma das poucas exceções, juro), sempre levando as coisas para um lado mais divertido e bem-humorado. Mas vamos deixar claro que bem-humorado não quer dizer engraçado. Fiquei bem na dúvida em relação ao quesito "graça" deste livro: porque ou o autor estava forçando a barra com suas piadinhas ou eu simplesmente não tenho um senso de humor rebuscado o suficiente para a literatura francesa. Talvez um pouco dos dois. Quem for francês aí, me ilumine com uma explicação, por favor.
A trama é totalmente incrível. In-crível, no sentido de credibilidade mesmo. E, para um livro que quer ter ares de "baseado em fatos reais", isso é muito chato. A narrativa segue um ritmo lento (maçante e enfadonho) e eu só me vi realmente envolvida na trama quando já havia lido metade do livro. A esta altura do campeonato eu já estava me perguntando como diaxos este livro podia ser um best seller em qualquer lugar do mundo! Do meio para o fim, eu me agradeci mentalmente por não ter parado de ler (três salvas de palmas para minha curiosidade!).
A trama é totalmente incrível. In-crível, no sentido de credibilidade mesmo. E, para um livro que quer ter ares de "baseado em fatos reais", isso é muito chato. A narrativa segue um ritmo lento (maçante e enfadonho) e eu só me vi realmente envolvida na trama quando já havia lido metade do livro. A esta altura do campeonato eu já estava me perguntando como diaxos este livro podia ser um best seller em qualquer lugar do mundo! Do meio para o fim, eu me agradeci mentalmente por não ter parado de ler (três salvas de palmas para minha curiosidade!).
O desenrolar final da história, para mim, compensou a lentidão com a que o livro se arrastou até ali. Para quem gosta de uma leitura calma, mais lenta e descontraída, este livro é uma ótima opção. Já quem, como eu, gosta de uma trama mais agitada e com mais significância, só a metade final do livro será prazerosa. Se vale a pena? não sei. Para mim, valeu. Enfim, foi por pouco, mas não foi dessa vez em que fui penalizada por julgar um livro pela capa.
Edição: 1
Editora: Record
ISBN: 978-85-01-10208-9
Ano: 2014
Páginas: 255