Em A Luz Através da Janela, Lucinda Riley conta a história de Emilie de La Martinières, última descendente viva de uma tradicional família francesa que, ao perder a mãe frívola e desafetuosa, se vê obrigada a lidar com uma herança e um legado familiar de peso. Assim, não bastasse sentir-se solitária e deslocada a vida inteira, Emilie se vê às voltas com preocupações que até então fizera questão de ignorar. O caos em sua vida parecia não ter solução até ela conhecer o inglês Sebastian Carruthers, que a leva a conhecer o passado de seu pai, as suas próprias raízes, mas principalmente os motivos que fizeram sua vida familiar tomar o rumo que tomou. Dessa forma, além da história de autodescoberta e amadurecimento de Emilie, a autora nos relata um pouco da história da França nos últimos anos da II Guerra Mundial, quando parte do país fora ocupado pelos alemães e a resistência franco-britânica se opunha ao regime instituído. Nesse momento (no mínimo) conturbado da História, Constance Carruthers (avó de Sebastian) conhece a família De la Martinières e testemunha uma história de luta e amor que teria sido apagada pela dor e pelo esquecimento, se não fosse por ela.
Não vou mentir: a extensão do livro (542 páginas!), o recurso que a autora faz a tantos dados históricos e certo medo de que toda a complexidade de elementos que se apresentavam não terminasse bem, em um primeiro momento, me fizeram pensar “por que eu pedi para ler esse livro mesmo?”. Contudo, Riley se mostrou uma boa surpresa: a leitura deixou clara a cuidadosa pesquisa empreendida, a disposição das histórias (reais e inventadas) foi feita de forma dinâmica e qualquer sinal de enfado foi posto de lado pela curiosidade. É claro que parte do mérito por esse feito, tenho que admitir, vem da Novo Conceito: ela distribuiu harmoniosamente o texto ao longo das páginas; optou por um tipo de papel relativamente leve (que impede que a gente quebre o pulso ao segurar o livro) e por uma capa delicada e coerente com a narrativa; da mesma forma que notas explicativas foram acrescidas, além daquelas feitas pela própria autora (adoro a sensação de “Aaaah, agora entendi...” durante uma leitura). Como eu disse que não ia mentir, agora vem o lado negativo: há certos trechos de poesia “soltos” pela narrativa, cujo propósito ainda estou tentando entender, e a escolha da sinopse para a contracapa, imprecisa e desconexa, me pareceu infeliz (fica a dica, Novo Conceito).
Enfim, diferentemente de algumas séries que me fizeram sentir-me tapeada por ter de comprar 3 ou mais livros por uma história que caberia perfeitamente em um único volume, A Luz Através da Janela me fez pensar “bem que podia ter mais, né?”. Alguns personagens secundários pareceram ter uma vida tão interessante que, se outros volumes com as suas histórias e com a mesma qualidade (ou melhor, simplesmente porque sempre procuro o melhor) existissem, eu ficaria tentada a ficar mais pobre. Se bem que... pensando agora sobre essa vontade de mais, nem sei direito: isso é mais uma qualidade ou outro defeito do livro?
Essa resenha foi escrita por Angícia Gomes, colaboradora do blog.
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