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As Pontes de Madison - Robert James Waller

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Se você é um romântico de carteirinha ou acredita em amor à primeira vista, encontro de almas, ou tudo isso junto, então é candidato à leitura do saboroso As Pontes de Madison (Única, 192 páginas). É uma história de amor avassaladora, decisiva para o casal, uma ponte entre os sonhos do passado e a realidade que terão que enfrentar.
Francesca Johnson é uma italiana quarentona, vive com o marido e os filhos adolescentes no Condado de Madison, Iowa. Dona de casa e mãe dedicada, ela deixou os próprios sonhos de lado para se dedicar exclusivamente à família.
Robert Kincaid é um cinquentão, fotógrafo da National Geographic, que chega à cidade para fotografar as famosas pontes cobertas de Madison. Em busca de informações, chega à casa dos Johnson e dá-se o encontro:
"A mulher saiu da varanda e foi em sua direção. Ele desceu da picape e olhou para ela. Olhou melhor. E, depois, com mais atenção. Ela era encantadora, ou havia sido, ou poderia voltar a ser. Logo, ele passou a ter aquela falta de jeito que o dominava sempre que estava perto de mulheres por quem se sentia atraído, mesmo que de leve."
O escritor teria recebido os diários de Francesca após sua morte, pelos herdeiros que gostariam de contar a belíssima história de amor que desconheciam até então. Mas por que reabrir as janelas do passado e revelar ao mundo momentos tão íntimos, que poderiam abalar a família Johnson e macular a imagem da mãe exemplar que fora Francesca?
"Palavras dão sensações físicas, não têm apenas significado..."
Para o escritor, com um tesouro desse quilate nas mãos, Gabriel García Marquez elucida: “O escritor escreve seu livro para tentar explicar a si mesmo o que está além de sua compreensão.”
Robert é a possibilidade de aventura, de viver o que se quer, de estar onde se deseja, de não ter raízes. Tudo o que Francesca não tem. Francesca é a presença doce e constante, aquela que está sempre à espera, a segurança de um lar. Tudo o que Robert precisa.
"Por que ela e Richard não viviam assim? Ela sabia que, em parte, era a inércia da rotina prolongada. Todos os casamentos e relacionamentos estão suscetíveis a isso. A rotina traz a previsibilidade e esta traz seus confortos próprios; também tinha ciência disso. (...) Entretanto, mais coisa acontecia. Previsibilidade é uma coisa, medo de mudar é outra. E Richard tinha medo de qualquer mudança no casamento. E não queria falar a respeito. Não queria falar, principalmente, sobre sexo. O erotismo, de alguma forma, era um negócio perigoso e impróprio para seu modo de pensar."
Eles viveram quatro dias intensos, permeados por muitas conversas e revelações. Jantaram juntos, dançaram, fizeram amor. E foram ainda além: desnudaram suas almas, abriram seus corações. Tiveram, enfim, aquele encontro decisivo que procuramos na vida. E agora, como poderiam ficar juntos? Robert era livre, mas Francesca não:
"Eles desistiram do pretexto de dançar e os braços dela o enlaçaram no pescoço. Ele levou a mão esquerda à cintura dela, às costas, enquanto a outra afagava seu pescoço, seu rosto e seu cabelo. Thomas Wolfe falava do 'fantasma da velha avidez'. O fantasma havia remexido Francesca Johnson por dentro. Por dentro dos dois."
Sobre a leitura, cabe listar alguns olhares: para uns, soará forte a traição de Francesca. Outros entenderão a frustração que ela carrega por viver uma relação monótona e sem paixão. Mas saberá aproveitar melhor o leitor que enxergar que o protagonista do livro é o amor. Um amor que resiste ao tempo, que alimenta dois corações solitários, que sabe exatamente onde deve permanecer, é algo sagrado, intocável, tão deles que só se revela após a morte de Francesca. Por isso conduz os amantes por toda uma vida.
"Em um mundo cada vez mais endurecido, sobrevivemos todos com nossas próprias carapaças de sensibilidades encobertas. Em que ponto a grande paixão termina e a insipidez se inicia, não sei. Contudo, nossa tendência para debochar da possibilidade da primeira e rotular envolvimentos genuínos e profundos com mero sentimentalismo dificulta a entrada no reino da delicadeza, necessária para entender a história de Francesca Johnson e Robert Kincaid."
 Considero o conflito dos personagens o que há melhor no livro. A briga interior, especialmente de Francesca, para compreender a extensão do que sente, tentando separar uma paixão momentânea - a lustrar seus dias embotados – do sentimento genuíno, que começa a reconhecer. E a difícil escolha que terá que fazer entre a família e o amor pelo qual ansiou por toda a vida. Eles se aproximaram de maneira irreversível, única, nas palavras de Robert: “essa certeza só se tem uma vez na vida”.
"O paradoxo é: se não fosse por Robert Kincaid, não sei se teria ficado na fazenda, todos esses anos. Em nossos quatro dias juntos, ele me deu uma vida inteira, um universo, e transformou minhas partes fracionadas em um todo. Nunca deixei de pensar nele, nem por um instante. Até quando ele não estava em minha mente consciente, podia senti-lo, em algum lugar. Ele sempre esteve ali."
Que história de amor linda, não é? É o meu filme preferido, já revi tantas vezes! Por isso pedi o livro: pelo efeito que o filme teve sobre mim. Mas preciso confessar que, apesar do romance inesquecível, este é um daqueles raros casos onde o filme fica melhor que o livro. A leitura é boa, mas tudo parece ainda maior e melhor quando Meryl Streep e Clint Eastwood, nos papéis principais, em maravilhosa sintonia, colocam na tela o algo a mais que faltou ao texto. Fatalmente fui influenciada pela alta carga emotiva que o filme havia despertado e que me conduziu ao livro... Então, na falta da poesia dos olhares, da hesitação das palavras não ditas, do movimento dos personagens em cena, acho que não encontrei tamanha força na leitura. Se tivesse cumprido o caminho inverso, tenho certeza que estaria bem mais satisfeita.
Devo dizer que a cena do carro, sob a chuva, é de arrasar o coração! É angustiante, lágrimas estão previstas, é um legítimo grand finale. Se você não leu o livro ou não viu o filme ainda, sugiro que leia primeiro e depois permita-se, numa tarde gostosa, pipoca e lencinhos, vibrar (e morrer de amor) com o filme.
"E, como o grande caçador antigo que viajara longas distâncias e agora avistava as luzes das fogueiras de seu lar, sua solidão havia se dissipado. Enfim. Enfim. Ele tinha chegado tão longe... tão longe. E ele estava deitado sobre ela, perfeitamente formado e inalteradamente completo era seu amor por ela. Enfim."
 Link do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/as-pontes-de-madison-465ed499044.html

Classificação: 4 estrelas



                 Resenha escrita por Manuh Hitz, colabora do blog.
Meu link do Skoob: http://www.skoob.com.br/usuario/596865




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