Autor: J. M. Coetzee
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2016
Sinopse: Neste clássico da literatura contemporânea, publicado originalmente em 1986, o prêmio Nobel J. M. Coetzee reinventa a história de Robinson Crusoé.
No início do século XVIII, Susan Barton se vê à deriva após o navio em que viajava ser palco de um motim de marinheiros. Ao desembarcar em uma ilha deserta, encontra abrigo ao lado de seus únicos habitantes: um homem chamado Cruso e seu escravo Sexta-feira.Cruso é um sujeito irascível, preguiçoso e autoritário: perdeu interesse em fugir da ilha ou mesmo em rememorar os eventos que marcaram sua chegada àquele lugar. Sexta-feira, por sua vez, não pode falar: teve a língua cortada, não se sabe se por proprietários de escravos ou pelo próprio Cruso.
Depois de um ano, eles são resgatados por um navio que rumava para a Inglaterra, mas apenas Susan e Sexta-feira sobrevivem à viagem a Bristol.
Determinada a contar sua história, ela busca um famoso escritor de seu tempo, Daniel Foe, na esperança de que ele escreva um livro sobre sua experiência na ilha. Mas com a morte de Cruso e a incapacidade de articulação de Sexta-feira, a tarefa se mostra mais difícil do que pensava.
Vaidoso, Foe insiste em adaptar a narrativa a seus caprichos. Susan, por sua vez, tem de convencê-lo de que sua versão é a melhor e luta para manter viva a memória de um passado do qual permanece como única testemunha – ou ao menos a única capaz de transformar aquela experiência em linguagem.
Traiçoeiro, elegante e inesperadamente lírico, Foe é uma das obras de construção mais complexa na carreira de um mestre absoluto da literatura.
Resenha:
Robinson Crusoé foi uma das histórias que mais ouvi antes de dormir na infância. Meu pai me contava as aventuras de Crusoé e Sexta-feira com detalhes que nem ele se lembra mais.
O livro “Robinson Crusoé” foi escrito por um autor chamado Daniel Defoe, que relata a história de um jovem marinheiro inglês. Até que um dia, uma tempestade o fez naufragar e ser o único sobrevivente em uma ilha do Caribe, onde ele construiu uma cabana, plantou, fez ferramentas, mesas, cadeiras, tudo o que precisava para viver sozinho na ilha. Porém, após alguns anos, Robinson Crusoé encontra pegadas na ilha, descobrindo uma tribo de canibais, de onde retira Sexta-feira e o trata como escravo. Mas no fundo sabemos que Sexta-feira se tornou mais do que isso, já que era o único amigo de Crusoé na ilha.
Enfim, na história original, Robinson consegue ser salvo e tal, mas isso não vem ao caso, pois estou aqui para contar a versão de J. M. Coetzee dessa história. Apesar do nome do livro ser Foe (referência ao autor do livro original), creio que a personagem principal seja Susan Barton, inglesa que naufragou na ilha em que Cruso e Sexta-feira viviam. Originalmente escrito em 1986, a Companhia das Letras nos trouxe uma nova edição de um clássico reinventado por um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura.
Susan chegou à ilha quando Cruso já deveria ter seus sessenta anos, tendo vivido praticamente sempre lá, acostumado à solidão, cheio de manias e sendo considerado o rei daquele lugar. Susan foi deixada à deriva pela tripulação do navio em que estava, após matarem seu capitão. Ela foi encontrada na praia por Sexta-feira, que a levou até Cruso, com quem finalmente ela conseguiu conversar e contar sua história.
Susan conta que sua filha havia sido raptada há 2 anos por um comerciante inglês e levada para a Bahia. Ela foi atrás da filha, morou em pensões, passou a costurar, procurou, esperou, mas não encontrou a filha perdida. E então, quando decidiu pegar um navio para voltar para casa, aconteceu o motim e assim ela chegou na ilha.
Enquanto conversava com Cruso, ela não conseguia compreender o porquê de ele não tentar escapar da ilha e voltar ao continente. Não conseguia compreender que, para ele, aquela ilha já era seu lar e que ele não se readaptaria em meio à sociedade. Muito menos Sexta-feira, mudo (a história de como sua língua foi cortada nunca seria revelada, pois só ele poderia dizer), que entendia apenas poucas palavras de ordem.
Tem uma cena no livro, em que Cruso fica doente e Susan cuida dele para que melhore. Em uma noite, Cruso tirou a roupa, delirante, reclamando de calor e deitou-se ofegante, começando a se debater na cama. Ela se deita com ele para segurá-lo até se acalmar, e para esquentar seu corpo, até que os dois adormeceram. Na manhã seguinte, ela acorda com uma mão explorando seu corpo. Tentou empurrá-lo, mas ele a prendeu, e por mais que ela fosse mais forte, decidiu ceder, talvez por dó por ele estar sozinho há 15 anos.
“Deveria lamentar o que acontecera entre Cruso e mim? Teria sido melhor continuarmos a viver como irmão e irmã, ou anfitrião e hóspede, ou senhor e criada, ou fosse lá como tinha sido? O acaso me lançara a sua ilha, o acaso me jogara em seus braços. Num mundo de acaso, existe melhor e pior? Cedemos ao abraço de um estranho ou nos entregamos às ondas; num piscar de olhos nossa vigilância relaxa; estamos dormindo; e quando acordamos, perdemos o rumo de nossas vidas.”
Certo dia aparece um navio, e Susan decide “salvar” Cruso e Sexta-feira, levando-os consigo para o continente. Cruso ficou doente novamente e não resistiu. Susan acredita que ele tenha morrido de angústia, por ter sido tirado da vida que construiu na ilha e não ter mais como voltar. Sexta-feira também apresentava comportamentos estranhos na cidade, pois não conseguia se adaptar.
Assim, Susan segue com Sexta-feira e encontra um escritor para eternizar suas memórias. Ela achava importante que a história de Cruso e Sexta-feira fosse contada, porém o autor (Foe) só se interessava pela história de sua filha perdida, inclusive tentando enganá-la com uma pequena atriz, que tentou se passar pela menina, sem sucesso.
“Temos, portanto, cinco partes no total: a perda da filha; a busca pela filha no Brasil; o abandono da busca e a aventura na ilha; a suposição da busca da filha; e o encontro da filha com sua mãe. É assim que se compõe um livro: perda, depois busca, depois recuperação, começo, depois meio, depois fim. Quanto à novidade, isso é dado pelo episódio da ilha – que é adequadamente a segunda parte do meio – e pela inversão na qual a filha assume a busca abandonada pela mãe.”
Para Foe, a ilha era apenas um episódio da história. Para Susan, a ilha era a história em si, a história que ela desejava que fosse contada.
O livro é recheado de passagens meio filosóficas, que nos fazem pensar nas nossas próprias vidas, nas nossas atitudes e nas consequências de cada uma delas. Porém não tenho certeza se consegui entender muito bem, pois na minha concepção, não consegui ver um final nele. Alguém aí que tenha lido pode me ajudar?? :S