ELA
Roteiro e Direção: Spike Jonze.
Elenco: Joaquin Phoenix, Scarlet Johansson, Amy Adams, Spike Jonze, Olívia Wilde, Rooney Mara, Chris Pratt, Matt Latscher, Portia Doubleday
ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS! Se você ainda não assistiu ao filme, prossiga por sua conta e risco.
Sinopse
Theodore Twombly é um homem complexo e emotivo que trabalha escrevendo cartas pessoais e tocantes para outras pessoas. Com o coração partido após o final de um relacionamento, ele começa a ficar intrigado com um novo e avançado sistema operacional que promete ser uma entidade intuitiva e única. Ao iniciá-lo, ele tem o prazer de conhecer "Samantha", uma voz feminina perspicaz, sensível e surpreendentemente engraçada. A medida em que as necessidades dela aumentam junto com as dele, a amizade dos dois se aprofunda em um eventual amor um pelo outro.
Resenha
Oi gente! De todas as relações humanas, talvez a que envolva maior complexidade seja o relacionamento amoroso.
Não é de hoje que o ser humano escreve odes e canções na tentativa de dar vazão a esse complicado e ininteligível sentimento. Ora, pra fazer uma pergunta clichê, quem nunca sofreu por amor? Bom, acho que a resposta é um tanto óbvia! Todo mundo que é vivo, já amou um dia. E se já amou, já sofreu. Quero dizer, qualquer pessoa que já tenha vivido um relacionamento amoroso com outra pessoa sabe que nem tudo no amor é um mar de rosas...
Porém, falar de amor de forma genérica é um tanto complicado, de forma que vou aqui me ater ao tema deste magnífico filme de Spike Jonze, que trata das histórias de amor envolvendo homem e mulher e, de forma bastante original, usa como pano de fundo uma tecnologia que se encontra cada vez mais próxima de nós: A consciência artificial.
Conheçam comigo esta estória de amor entre Theodore e Samantha!
AMBIENTAÇÃO E TEMPORALIDADE
A narrativa em ELApassa-se em Los Angeles, num futuro nada distante. Quero dizer, percebemos, pelos cenários, que embora pouca coisa tenha mudado com relação às cidades e aos seres humanos, a tecnologia encontra-se num patamar um pouco mais evoluído.
Em outras palavras, o comportamento humano face à tecnologia não está muito distante do que já vemos hoje pelas ruas, ou seja, pessoas cada vez mais conectadas entre si no mundo virtual e cada vez mais distantes no mundo real.
Noutro ponto, percebe-se que a produção do filme tomou grande cuidado quanto à caracterização dos personagens com relação à moda, que faz forte referência aos anos 80 (não sou estilista nem designer de moda gente, é só a minha impressão sobre o tema, ok?), com cores fortes, cortes de cabelo um tanto retrô (o que de certa forma faz sentido, uma vez que sabemos que as tendências se repetem de tempos em tempos) e umas calças masculinas um tanto, digamos, engraçadas (assistam e vejam com seus próprios olhos hahaha).
Theodore, o “fofo”.
Calma, gente. Não é que EU tenha achado o personagem fofo. É que Theodore (Joaquin Phoenix) é tão gentil e educado e, ao mesmo tempo, tão trabalhado na autocomiseração e na confusão sentimental que uma das moças (na verdade, a única, interpretada pela belíssima Olívia Wilde) com quem ele se arrisca a sair no começo do filme o compara a um puppy, ou seja, um filhotinho fofo...
Mas não é pra menos. Nosso protagonista vem de um casamento fracassado e carrega consigo a culpa pelo fim de seu relacionamento com Catherine (Rooney Mara).
Theodore vive de um ofício que para nós parece curioso, mas que no futuro retratado no filme é um negócio muito demandado, qual seja, escrever cartas sob encomenda. Isso mesmo! Aliás, o personagem é conhecido pelo seu talento e sensibilidade para escrever cartas de amor, sobretudo endereçadas a pessoas que ele não conhece. Assim como comentamos a respeito da moda do futuro na visão do roteirista, as cartas também fazem sentido! Afinal, se de um lado a comunicação eletrônica tira cada vez mais a pessoalidade das correspondências, cartas manuscritas dão a elas aquele ar “gourmet” que já não vemos hoje em dia (olha o raio gourmetizador aí! Hahaha).
Assim, nosso herói passa seus dias numa melancolia sem fim, até que um dia ele vê uma publicidade no comércio a respeito de um assistente pessoal eletrônico que promete uma experiência pessoal, única. Afinal, se a vida real não está dando muito certo, que mal faria uma companhia virtual?
É aí que entra Samantha.
É aí que entra Samantha.
Samantha, a mulher ideal (será?)
Gente, outra vez, não é que eu ache a Samantha a mulher ideal. Pra começar, nem mulher ela é, ou melhor, nem humana ela é! Já começa por aí...
Ao ativar seu sistema operacional (OS) recém adquirido, Theodore pela primeira vez encontra-se com uma voz feminina que não se parece em nada com a narradora do Google. Muito pelo contrário. A voz da consciência artificial do aplicativo imita as entonações e os maneirismos humanos com perfeição e atende pelo nome de Samantha (voz de Scarlet Johansson).
Samantha é uma garota (virtual) super gentil e engraçada. Aos poucos, Theodore tem a impressão de que eles se conhecem há muito tempo, tamanha é a empatia entre os dois.
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Olha Samantha ali, no bolso de Theodore! |
Ademais, ela demonstra ser capaz de aprender e evoluir tal qual um ser humano de verdade. Com o tempo, Samantha parece desenvolver, inclusive, sentimentos.
É meus caros, se em filmes como Eu, robô uma possível capacidade das de processar sentimentos humanos era uma incógnita, na visão de Spike Jonze já não é mais: Samantha parece ser tão capaz de amar, se excitar, se alegrar, se irritar e odiar quanto os seres humanos.
Diante disso, Theodore e Samantha entregam-se a um amor um tanto peculiar. Quero dizer, não é a mesma coisa que corresponder-se pela internet com alguém que nunca se viu. Estamos falando de amor entre um homem e um “aplicativo”! Mas o mais curioso sobre essa estória não é nem isso, já que o autor propôs algumas maneiras bem razoáveis de se transpor a barreira da inexistência de um corpo físico. O grande questionamento aqui é: Estaríamos nos aproximando tanto assim da tecnologia? Mais: O quão possível é para uma máquina substituir um ser humano, ainda mais de forma tão íntima?
CONCLUSÃO
No futuro aqui retratado o relacionamento íntimo com sistemas operacionais não é algo estranho. Amy (Amy Adams), amiga de Theodore, por exemplo, acabou afeiçoando-se também a um OS deixado pra trás pelo ex-marido. Como disse acima, a proposta do filme é um pouco mais complexa do que isso. Fica o questionamento: Quanto falta para que as consciências artificiais substituam de vez os seres humanos? Mais do que uma ideia assustadora, tal questionamento é uma proposta de reflexão.
Até a próxima, gente!
“O PASSADO É SÓ UMA HISTÓRIA QUE CONTAMOS PRA NÓS MESMOS...”
(Samantha)