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{Filme} Tim Maia - Não há nada Igual

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Direção: Mauro Lima, 2014.

Elenco: Babu Santana, Robson Nunes, Aline Morais, Laila Zaid, Cauã Raymond, George Sauma, Tito Neville, Renata Guida, Luís Lobianco

ATENÇÃO: ALERTA DE SPOILER! Se você ainda não assistiu ao filme, prossiga por sua conta e risco!

SINOPSE

     O longa transporta para o cinema biografia do cantor brasileiro Tim Maia, baseada no livro Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia.

RESENHA

     Oi gente! Hoje decidi falar sobre um dos meus ídolos da MPB e, por que não dizer, do rock nacional e precursor da Black Music no Brasil: O grande Tim Maia!

     Falar de Tim Maia pra mim é uma tarefa simples, visto que, por influência principalmente do meu pai, cresci ao som de suas músicas, fosse no toca discos, fosse ao som do violão do meu velho que, vez por outra, dedilhava um som do síndico.

     O filme é na medida certa, sem enrolação: Mostra a vida de Tim, da infância pobre na Tijuca à adolescência nos EUA, do seu difícil retorno ao Brasil até um tumultuado estrelato.

      Não esquecendo que trata-se de uma biografia baseada no livro de Nelson Motta, produtor musical e grande amigo de Tim Maia, o que fica claro para quem assiste ao filme é que, gostemos ou não do "Tião marmiteiro" (apelido de infância que Tim detestava), fato é que ele nunca deixou de ser o que ele era: o menino encrenqueiro da Tijuca que nunca deixaria de perseguir seu sonho. Nada nem ninguém podia controlá-lo. 

     Com vocês, o grande TIM MAIA!

AMBIENTAÇÃO E TEMPORALIDADE

     A história se inicia no Rio de Janeiro dos anos 40, mais precisamente à partir do dia 28/09/1942, quando nascia Sebastião Rodrigues Maia, filho de dona Maria e seu Altivo.



     Uma década e meia depois, começaria a despontar no país a revolução musical que ficaria conhecida como Jovem Guarda. Era o Rock n` Roll, invenção dos norte americanos importada pelo então apresentador de TV, Carlos Imperial, que começava a tomar conta do Brasil.

     Nessa época, Tião (Tim) formava no salão paroquial da igreja na Tijuca a sua primeira banda, The Sputniks, ao lado de ninguém menos que Roberto e Erasmo Carlos, conseguindo algumas apresentações, até mesmo na TV. 



     Porém, o temperamento explosivo de Tim colocaria tudo a perder, como aconteceria diversas vezes em sua vida. 
  
DESVENTURAS NOS EUA

     Tim tinha uma tendência a culpar o mundo por seus fracassos. Portanto, se as coisas não estavam dando certo pra ele enquanto musico no Brasil, era hora de ir tentar a sorte noutra freguesia. Em outras palavras, se a Tijuca, o Rio e Brasil ficaram pequenos demais para ele, por que não tentar a sorte nos EUA?

     Afinal, Tim ouvira falar que as coisas por lá andavam pipocando com Elvis, Chuck Berry, James Brown e tantos outros... Ao mesmo tempo, no Brasil, as oportunidades pareciam se descortinar pra todos, menos pra ele. E não podia ser diferente já que, nas palavras do próprio Tim, por aqui ele seria sempre o `mulato sem chance`.

     Nada disso importava mais. A paróquia da Tijuca iria mandar alguns garotos para uma missão nos EUA e Tião, na malandragem, conseguira uma passagem.


A chegada aos EUA


     Mas a vida no estrangeiro não seria um mar de rosas. Afinal, se Tião se considerava discriminado aqui no Brasil por sua cor, imaginem o preconceito que ele sofreu lá.

     Tim vivia sendo preso por pequenos furtos (ele furtava, sobretudo, comida em pequenos mercados) para o desespero da família que o acolheu nos EUA.

     Porém, entre uma prisão e outra, Tim acabou formando a banda The Ideals com alguns amigos (alguns dos quais ele havia conhecido na cadeia).

     Assim tinha início a carreira musical de Tim Maia nos EUA, que seria encerrada tão logo ele fosse deportado para o Brasil, sendo obrigado a assinar um documento perante a justiça americana, comprometendo-se a nunca mais pisar naquele pais. O motivo? O de sempre: pequenos furtos e posse de drogas.



     Encerrava-se assim a aventura do Tião marmiteiro nos "states".

O DIFÍCIL REGRESSO

     Tim voltou ao Brasil e, também, à estaca zero. Sem dinheiro e sem perspectivas, voltou a praticar pequenos furtos, o que o levou a mais uma estadia na carceragem.

     Após esse período, Tim decide tentar a sorte em São Paulo, onde seus antigos companheiros de banda estavam, com sucesso, construindo suas carreiras.



     Tentativas frustradas e até humilhações por parte de `velhos camaradas` foram experimentadas por nosso herói, até que, um dia, ele se encontrava no lugar certo, na hora certa.

     Após fechar uma parceria com Roberto Carlos envolvendo a música NÃO VOU FICAR, Tim conseguiu gravar seu primeiro disco. Potencial e talento não lhe faltavam.

     Com seu disco vendendo e alguns poucos shows agendados, Tim ainda mora de favor na casa de seu amigo e também músico Fábio, no Rio de Janeiro, onde aconteciam muitas festas. Foi nessa fase que Tim iniciou seu envolvimento com drogas mais pesadas.



O SÍNDICO: A PERSONALIDADE AVASSALADORA DE TIM MAIA

     O filme retrata (não tão bem quanto o livro, obviamente) a personalidade conturbada, explosiva e, por vezes, agressiva de Tim Maia.

     Desde o começo, quando ainda tocava com os Sputniks, Tim já dava sinais claros de como seria a sua tumultuada carreira. Nessa época, conta a história que ele expulsou da banda, aos berros, ninguém menos que Roberto Carlos. "Você não canta nada seu magrelo, some daqui!", teria dito. Não se sabe se os episódios tiveram de fato relação, mas, ainda segundo o livro, tal fato teria levado `O Rei` a humilhar Tim Maia anos mais tarde, quando mesmo foi pedir-lhe ajuda para alavancar sua carreira. 




     Tim Maia tinha algumas manias muito peculiares, como dar apelidos a pessoas e lugares (ele apelidou de Garrastazu os locais escondidos que ele escolhia para fumar maconha), transportar todo seu dinheiro em um cofre que ele constantemente carregava debaixo do braço, ou, ainda, recusar-se terminantemente a entrar em aviões, preferindo ir do Rio ao Nordeste do pais dirigindo, para o desespero de sua equipe e de seus contratantes. 

     Tudo com Tim era em excesso. Drogas e bebidas eram parte do cotidiano. Porém, de todas as suas compulsões, a maior era por comida. Tim comia compulsiva e desesperadamente. Para tentar aplacar esse impulso, Tim misturava num liquidificador tudo o que encontrava na despensa (como guaraná, suco de caju e goiabada, tal como na canção). Segundo relatos, era capaz de fazer um `lanchinho` utilizando uma dúzia de ovos para uma fritada.



     Como brigou em quase todas as gravadoras por onde passou, Tim acabou fundando seu próprio selo, a SEROMA, onde passou a produzir e a gravar seus próprios discos. Segundo relatos, era quase impossível de se gravar com Tim Maia, que nunca estava satisfeito com a qualidade do som. Se não era a aparelhagem, era a regulagem da mesa e assim por diante...

     Nessa fase, Tim já era reconhecido como uma das maiores vozes do Brasil. Porém, sua vida de excessos o levava a esculhambar suas apresentações ou, até mesmo, não aparecer para se apresentar. Quando cobrado por tais atitudes, Tim explodia aos berros, o que lhe rendeu o apelido de síndico.



     Tim terminaria sua carreira cantando músicas, em sua maioria, românticas. Segundo ele próprio, tinha sofrido tanto na mão das mulheres que havia se tornado especialista em `cornitude`. Rsrsrs

     Mas, antes do fim, Tim ainda se converteria para uma religião um tanto controversa, como veremos a seguir.

O SUPERIOR RACIONAL

     No auge de suas loucuras, Tim Maia encontrou na casa de um amigo o livro denominado Universo em Desencanto, proveniente da doutrina do Superior Racional, uma seita brasileira fundada por Manoel Jacintho Coelho em meados de 1930.

     A doutrina, entre outras coisas, pregava a abstinência total, tendo Tim, nesta fase, abandonado por completo todas as drogas de que fazia uso.



     Segundo relatos de Nelson Motta, autor da biografia, Tim não só converteu-se fervorosamente como tentava a todo custo converter seus conhecidos, amigos e colaboradores, motivo pelo qual muitos desses afastaram-se dele nesse período.

     Tim chegou a produzir, nessa fase, o espetacular disco Tim Maia Racional (volumes 1 e 2), inteiramente à sua recém abraçada seita.



     Porém, em determinado momento, Tim cismou que os integrantes da seita estivessem se aproveitando de seu talento e, da mesma forma inesperada que abraçou a Cultura Racional, foi embora aos berros, encerrando o que, curiosamente, teria sido o período mais lucido de sua vida.

CONCLUSÃO

     No auge dos seus 55 anos de idade, Tim Maia, que quase nunca tinha ido a uma consulta médica, mesmo com sua vida insalubre e regada a excessos, deixava os palcos terrenos para compor a constelação dos grandes nomes da música brasileira que partiram. E, ironicamente, morreu praticamente  no meio de um show, quando passou mal e veio a falecer. Chegava ao fim a fúria de Tim Maia, mas seu som seria eterno.

     Até a próxima, gente!



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