
Autor: Sacha Sperling
Editora: Companhia das Letras
Sinopse: Um garoto que mal completou quinze anos já se sente vivido o bastante para contar sua vida, em especial tudo que se passou com ele um ano antes, numa fase de profunda crise existencial. E ele tem mesmo o que contar, começando por suas explorações sexuais com garotas e com um garoto de sua idade, o pasoliniano Augustin, que tem um pé na delinquência e virá a ser seu primeiro grande amor. Não faltam as epifanias nem sempre luminosas, obtidas às custas de muito álcool e drogas, desde maconha até cocaí-na, passando por anfetaminas e calmantes de farmácia.
“O Boulevard sujo onde caminham os jovens de olhos avermelhados. Independência, mãos nos bolsos. Quando forem dormir será dia. Quando a noite cair já estaremos longe. (...) Os jovens de olhos avermelhados estancaram.Por um instante, podemos sentir o peso do mundo sobre os ombros.” (Página 82)
“Ilusões Pesadas” faz jus ao nome que recebeu. O livro nos apresenta Sacha, um garoto que seguia a vida nos trilhos, dedicado na escola e companheiro da mãe. Tudo isso muda quando conhece Augustin.
A narrativa em primeira pessoa nos faz entrar na pele da personagem, toda sua tristeza e angústia nos são transmitidos. É um livro realmente pesado.
Ao longo dos capítulos percebemos a mudança de Sacha, algumas bebidas, festas, drogas, coisas que jovens usam para esconderem o vazio e a verdade dentro de si.
“Porque você não tem nenhum desejo que possa te transportar a outro lugar. Nenhum objetivo. Seus prazeres são tréguas, fáceis e rápidas. Você tem tudo e, no entanto, você se vê pouco a pouco com o coração vazio e a cabeça cheia de imagens violentas, as únicas capazes de fazer você se lembrar que está vivo.” ( Página 91)
A brusca mudança de Sacha afeta a todos e a ele mesmo, principalmente. Ele percebe que mudou, se sente desconfortável e não se reconhece mais, e mesmo sabendo de tudo isso, se vê incapaz de voltar ao que era. Está preso à Augustin, o cara pelo qual se apaixonou e o qual não pode ter.
Sua vida se torna drogas e sexo, sem distinção ou preferencia. A cada capítulo que passa, mais e mais Sacha se perde e se lamenta, e o leitor sofre com ele. E nada, nem mesmo psicólogos podem mudar sua condição, pois no fundo ele não tem a motivação para isso.
“E, no entanto, você não parece se dar conta de todos esses cortes no meu braço. Eles estão aí por isso mesmo. Eu sufoco. Ninguém reage. É esse o problema, quando a gente berra em silêncio. Gostaria que esses pedaços de pele fatiados, que esses litros de álcool ingeridos, que toda maconha transformada em fumaça falassem por mim.” (Página 157)
Apesar de pesada, a história consegue prender, fazendo o leitor ansiar pelo final, por um final bom para Sacha. E devo dizer que o final me surpreendeu, deixando alguns assuntos em abertos e outros que já eram esperados.
Recomendo que leiam o livro com calma, parando um pouco para respirar, tomar algo e voltar à leitura, por que Sacha irá te obrigar a isso.