Autora: L. L. Alves
Editora: Arwen
Sinopse: Bom, o que eu tenho a dizer sobre esta história maluca que estou prestes a contar? É simples: vocês não vão acreditar. Sério mesmo. Vai parecer loucura, com minha boca suja, dois pés esquerdos, noites inusitadas e quilinhos a mais (muito mais, mas não vamos entrar em detalhes...). Mas vou fazer o quê? É a verdade. E eu vou contar para vocês porque... Sei lá. Na verdade, eu nem devia estar contando, alguns de vocês vão se chocar.
Ainda está aqui? Bom, o risco é todo seu. Prepare-se.
Ah, é verdade, esqueci de me apresentar (típico). Meu nome é Daniella Fagundes, vinte e oito anos, namoro com o Thiago há dois anos e posso dizer que tudo está mais que perfeito! (xi, exagerei agora, né?). Também adoro comer e sou diferente de qualquer outra mulher que já tenha contado sua história para vocês. Por quê? Porque sou uma daquelas mulheres conhecida como gordinha. Sabe como é? Eles não se referem a mim como a sagaz Daniella ou a superconfiante Daniella. Sou apenas a gordinha do grupo. Sempre tem que ter um, não é?
Bom, é isso aí, acho que deu para entender. Afinal, vocês estão prestes a conhecer as minhas aventuras de autoconhecimento e de... Comece a ler, ué. Não quer perder um segundo, quer?
Então, vamos começar com o que me fez ler este livro. Eu sou gorda. E achei muito bom um livro com uma protagonista gorda, aquela coisa de representatividade importa, sabe? Não vemos muitas gordas na literatura e Daniella foi a primeira que encontrei. Se souberem de mais, me avisem que quero muito ler!
Agora, vamos ao que é Gordofobia:
Gordofobia é o sentimento de medo, não só do individuo gordo, mas da gordura, o medo irracional de se tornar gordo e assim se tornar aquilo que você repele, o medo de se transformar na figura do gordo, isso é lipofobia, a gordofobia vem da lipofobia.
Gordofobia é a repulsa, o nojo, o asco, o sentimento de raiva e necessidade de afastamento do individuo gordo, da gordura e de tudo que a cerca. (via: Gordaslivres ).
Então pessoas que estão lendo a resenha, por favor não usem a desculpa “Como uma pessoa gorda pode ser saudável” “bla bla bla”. Somos maduros e adultos demais para essa hipocrisia, okay?
Como gorda desde a infância, lembro-me de ser chamada de balão da Pepsi, bujão de gás, ser a última a ser escolhida para os jogos, ignorada por professores de educação física, as “tops” da escola rir na cara e apontar seus defeitos. Isso marca uma pessoa e a faz detestar-se. A faz ficar quieta em um canto quando está numa festa, a nunca chegar no carinha o qual está apaixonada há anos. Essas coisas. Então você simplesmente odeia quem é, é a rainha da insegurança a ponto de chorar quando descobre que suas amigas saíram e nem se lembraram de perguntar se você queria ir junto – afinal, você é a gorda. Ninguém quer sua companhia.
Tenho 30 anos. E ainda hoje vejo um carinha aleatório na rua que vende doces vir correndo pra mim com aquele brilho nos olhos de quem tem uma venda garantida: “Quer doce moça?” como se apenas por ser gorda, você deve comer doces a cada minuto, por não conseguir resistir aquela vontade de lhe corrói de comer aquele brigadeiro.
Demorei a me aceitar, a gostar da minha imagem no espelho. A mandar um F**** para quem usa gorda como termo pejorativo, e não uma característica física. Se você ri do termo “Gordo só faz gordice”, por favor, esta resenha é para você criar um pouco de empatia com as pessoas que lhe cercam, okay? Não ria das características físicas de uma pessoa. Ser gordo não é engraçado. A pessoa gorda não existe para sua diversão e prazer. Ninguém existe para sua diversão e prazer, todos somos seres humanos. Não seja um babaca.
Pronto. O que tudo isso tem haver com o livro?
Daniella Fagundes tem 29 anos, é gorda (a imaginei menos gorda que eu) e tem um namorado com o
qual está há dois anos. Ela é formada em administração e o livro começa com ela deixando seu emprego, onde suas duas melhores amigas (Paula e Sabrina) irão continuar trabalhando. Lá, pelo que dá para entender, o chefe é o diabo encarnado. Então quando surge uma nova oportunidade de emprego, Dani a agarra.Mas essa nova oportunidade não é mole: seu namorado, Thiago, é advogado (de família rica) e está começando uma sociedade de advogados e decide que sua secretária será sua namorada. Claro que Dani fica feliz e ela é toda profissional sobre isso. Só que... Ela é toda atrapalhada. Tipo, ela tropeça demais, soa demais, essas coisas. E tem medo de embaraçar o namorado na frente das pessoas do trabalho.
Daniella tem problema com seu peso, com sua aparência, com a sua gordura. No começo, para mim, foi sofrido ler. Foi meio que uma caricatura de uma pessoa gorda que não consegue fazer nada direito porque seu peso a atrapalha.
“(...) chegava todo dia atrasada, correndo, derrapando no chão encerado e recebendo os ‘olhares’. Aqueles que apenas Os Grandes recebem. ‘Só podia ser a Daniella’, ‘Só podia ser a gordinha’. Porque nunca somos ‘pessoas acima do peso’. Somos os gordinhos. Como se diminuir a palavra mudasse alguma coisa no sentido.”
E percebe aos poucos que seu namorado sente vergonha dela, a família dele a despreza. E ela tenta conviver com isso, mas é difícil perceber que aquele que você ama, não a ama completamente. Então ela começa com inseguranças que acabam prejudicando tremendamente sua vida.
Devagar, ela vai se descobrindo e encontrando mais pessoas em seu caminho, parecendo correr atrás de tudo o que perdeu por um tempo. Tenta lutar contra o monstro que lhe consome por dentro, mas a imagem em seu espelho, apesar de às vezes lhe desagradar, ainda é seu maior terror.
É claro que coisas engraçadas lhe acontecem, mas eu senti que foi meio que coisas para ser zoada, saber? Então não me agradaram muito.
É escrito no estilo diário, então as palavras meio que marcam o leitor. Achei totalmente degradante a imagem de pessoa gorda que nos é passada no começo do livro, frisa as “banhas”, a “grandeza” essas coisas. Eu pensei que seria um livro completamente comum, sobre a vida de uma pessoa comum, que se ama e é empoderada... E recebi um poço de autodegradação.
No final, mas só no final, ela tem uma epifania e decide mudar. Aceitar-se como é, é o caminho para ser feliz. Amar-se é mais importante que amar o outro.
No final, há uma volta que deixou chateada também, envolvendo Thiago. A vida dela estava muito boa, as coisas indo bem. As mudanças sendo realmente satisfatórias e agradáveis, mas no fim... Só um suspiro para explicar.
Ao mesmo tempo que Daniella tenta mostrar para mãe que seus pensamentos são machistas, que mulher não vive só para agradar seu homem, ela repete as mesmas ações, mas de maneiras diferentes. É cheia de pudores, dá pra ver que, enquanto ela escreve (ela personagem), tem dúvidas se pode colocar cenas obscenas, falar palavrões. Enfim...
É o começo das protagonistas gordas, espero que mais pessoas utilizem personagens fora do padrão da sociedade para suas histórias. Chega de vampiras gostosonas! Chega de modelos, de homens que só gostam de mulheres saradas! Vamos mostrar que também existimos e somos gostosas!