Direção: Theodore Melfi
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kevin Costner, Jim Parsons, Kirsten Dunst, Glen Powell, Mahershala Ali, Aldis Hodge
Sinopse: Quando os cientistas da NASA implantaram um programa de inserção para jovens negras em seu programa espacial não imaginavam se depararem com Katherine, Dorothy e Mary, três jovens que buscavam mais do que um simples cargo como computadoras e, apesar de seus esforços e colaborações durante a corrida espacial, viriam a ter seus feitos reconhecidos somente muito mais tarde.
ATENÇÃO: Alerta de Spoilers! Se você ainda não assistiu ao filme, prossiga por sua conta e risco!
Resenha
Oi, gente! Já assistiram ESTRELAS ALÉM DO TEMPO (Hidden Figures, 2017)? Aquém de todas as minhas expectativas, esse maravilhoso longa baseado em fatos reais optou não por focar naquela história já batida (cinematograficamente falando, gente) sobre o sofrimento dos negros nos EUA, mas por contar uma história de superação e triunfo contra todas as possibilidades.
Apesar do tema sério, o diretor conseguiu transportar para a telona, de uma maneira muito leve, o sofrimento e a luta das mulheres negras norte-americanas no final dos anos 50, e que de certa forma perdura até os dias de hoje.
Ambientação
O longa se passa nos EUA, no período que compreende a chamada corrida espacial, quando os governos americano e soviético disputavam palmo a palmo os avanços na área da exploração espacial. Afinal de contas, naquela época, quem controlasse o espaço controlaria, em certa medida, o mundo.
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O cosmonauta russo, Yuri Gagarin |
Nesse período, a população norte-americana vivia em constante tensão, principalmente porque os russos saíram na frente quando lançaram ao espaço o primeiro ser vivo, que não foi um ser humano, mas sim uma cadela chamada Laika, que acabou morrendo poucas horas após o início do experimento. O próximo a ser enviado às fronteiras do planeta Terra seria o russo Iuri Gagarin, que disse a famosa frase “A Terra é azul.”
Diante dos avanços da União Soviética, fez-se urgente para os americanos ultrapassar os russos na corrida espacial. Nesse período, a NASA mantinha em seus quadros uma equipe de “computadoras”, que cuidavam do grosso dos cálculos antes que os mesmos fossem enviados aos cientistas. Esse programa abrangia, quase que em sua totalidade, mulheres negras, que faziam, resumidamente falando, o trabalho que um notebook faz nos dias de hoje. Ocorre que, na época, a IBM estava desenvolvendo o que viria a ser um dos primeiros computadores da história exclusivamente para a NASA, o que custaria aos cofres públicos alguns milhões de dólares.
Ressalte-se que, na época em que se passa o longa, ainda havia segregação racial institucionalizada em alguns estados, o que dificultava o progresso de qualquer jovem negra, sobretudo num ambiente dominado por homens brancos.
Porém, dizem que é na adversidade que desabrocham as mais belas flores...
As adoráveis protagonistas
Nossa história se desenrola basicamente ao redor de três jovens mulheres: Katherine Johnson, Dorothy Vaughn e Mary Jackson.
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Taraji P. Henson (à direita) como Katherine Johnson |
Katherine é uma jovem viúva, mãe de três filhas, que aos 6 anos de idade já apresentava inteligência muito acima da média, motivo pelo qual foi escolhida dentre suas colegas computadoras para compor a equipe de cálculos chefiada por Al Harrison (Kevin Costner), um rígido físico, bem como Paul Stafford (Jim Parsons), que tratava Katherine com desdém. O fato de Katherine ser mulher a atrapalhava, pois tratava-se de um ambiente quase exclusivamente masculino. Por ser negra, Katherine tinha que deslocar-se por quase um quilômetro apenas para usar o banheiro, já que o prédio onde trabalhava não tinha banheiros para negros. Apesar de tudo, Katherine acabaria sendo a grande responsável por levar ao espaço e trazer de volta em segurança o astronauta John Glenn (Glen Powel) e, posteriormente, trabalhando no projeto Apollo, que levaria o primeiro homem à Lua.
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Octavia Spencer (à esquerda), como Dorothy Vaughn |
Dorothy Vaughn era uma computadora que acumulava as funções de supervisão e coordenação, embora não fosse reconhecida como tal, nem recompensada por isso. Quando o primeiro computador IBM cruzou as portas da NASA ameaçando seu emprego e o de suas colaboradoras, Dorothy, que detinha conhecimentos de mecânica ensinados por seu pai, adiantou-se em aprender linguagem de programação e dominar a máquina quando nenhum dos engenheiros mecânicos da agência conseguiu. Levou consigo sua equipe de computadoras para auxiliar na operação da IBM, tornando-se, enfim, a primeira mulher negra a assumir um cargo de supervisão dentro da NASA.
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Janelle Monáe (à esquerda), como Mary Jackson |
Por fim, mas não menos importante, temos a atrevida Mary Jackson. Mary era a mais jovem e impetuosa das três amigas e nutria o sonho de tornar-se uma engenheira. Incentivada por outros cientistas, Mary estava determinada a estudar engenharia, mas havia um obstáculo a princípio intransponível: Não havia universidades para negros no estado do Texas. Tal fato levou Mary a apelar para a suprema corte americana, onde conquistou o direito de frequentar o curso de engenharia no período noturno. Mary viria a tornar-se a primeira engenheira da NASA.
Título Original
Há anos que eu me faço a mesma pergunta que todo cinéfilo: Por que diabos mudam os títulos dos filmes de forma tão escabrosa no Brasil?
O filme de hoje, por exemplo. O título original (Hidden Figures, ou Personagens Ocultas traduzindo-se para o português) centraliza toda a ideia do enredo, ou seja, contar a história daquelas personagens de quem ninguém nunca tinha ouvido falar, mas que foram essenciais para a chegada do homem ao espaço.
Daí, quando o filme vem para o Brasil, dão-lhe um nome “sessão da tarde” tipo Estrelas Além do Tempo... pra quê? Já desisti de tentar entender...
Conclusão
Preconceito e segregação racial não são temas novos no cinema. Há uma centena de filmes que abordam o tema. Mas nenhum o fez como Estrelas Além do Tempo, que preferiu focar na perseverança ao invés do sofrimento.
De fato, vivemos tempos de crescente intolerância que parte de todos os lados, a mesma intolerância que assolou nações somente há algumas décadas atrás. As pessoas estão encarando o retrocesso cultural como aceitável, a despeito de progressos culturais, sociais e espirituais conquistados a custa de muito sangue e muito diálogo.
Resta-nos fazer frente à essa onda de intolerância, para que não voltemos a cometer os mesmos erros do passado. É no que eu acredito.
Até a próxima, gente!