Autor: Fábio Moon e Gabriel BáEditora: Quadrinhos na Cia.Sinopse: Um dos livros mais importantes da literatura brasileira contemporânea, Dois Irmãos vem, desde seu lançamento, conquistando gerações de leitores. E foi com o mesmo entusiasmo desses leitores que os premiados quadrinistas Fábio Moon e Gabriel Bá embarcaram na missão de adaptar o romance de Milton Hatoum para uma graphic novel.Ao mesmo tempo que preserva a força narrativa de Hatoum, esta adaptação evidencia o talento de Bá e Moon na construção de histórias que alternam entre a tragédia, a delicadeza, a brutalidade e o humor. No traço deles, a vida dos gêmeos Yaqub e Omar ganha novos contornos épicos. A Manaus de Bá e Moon, feita de um jogo de luz e sombras, acolhe este drama que cruza gerações e, seja nos grandes planos ou nos mínimos detalhes, carrega o enredo de Hatoum de energia e vitalidade.
Hoje apareço para falar sobre mais uma história em quadrinhos, dessa vez, uma que foi baseada em uma obra literária brasileira, com mesmo título, escrita por Milton Hatoum em 2000.
A história é narrada por volta da segunda Guerra Mundial, ou melhor, após o fim desta, por um personagem que nos é apresentado ao decorrer dos acontecimentos. Ele nos conta sobre os irmãos gêmeos Yaqub e Omar e como a intriga deles acabou por causar o drama de toda uma vida para sua família.
"Eu não a vi morrer. Mas alguns dias antes de sua morte, ela deitada na cama de uma clínica, soube que ergueu a cabeça e perguntou em árabe, para que só a filha e a amiga quase centenária entendessem...e para que ela mesma não se traísse: meus filhos já fizeram as pazes? Ninguém respondeu."
Yaqub e Omar eram definitivamente bem distintos um do outro e distinta também era a forma como eram tratados pela mãe, que zelava grandemente o caçula por conta do seu adoecimento logo nos primeiros meses de vida.
Aos treze anos os irmãos tiveram seu primeiro embate, por conta de ciúmes. Lívia, o primeiro amor de ambos foi o que incentivou a intriga. Foi assim que Yaqub ganhou sua cicatriz, pelas mãos de seu próprio irmão e talvez por conta do tamanho carinho de Zana, Omar ficou em Manaus, enquanto enviavam o mais velho para o Líbano, durante a guerra.
Aos treze anos os gêmeos foram separados e só se reencontraram cinco anos mais tarde.
"A cicatriz começava a crescer no corpo de Yaqub. A cicatriz, a dor e um sentimento que não revelava e talvez desconhecesse. Remoía calado, matutava. Não tornaram a falar um com o outro. Os pais temiam a reação de Yaqub, temiam o pior. [...] Então, Halim decidiu: a viagem, a separação. A distância que promete apagar o ódio, o ciúme e o ato que os engendrou."
Após seu retorno à casa, tudo que todos esperavam era a melhora, os bons tempos. Afinal tudo melhora depois de uma guerra. Porém, quem reparasse de perto, como era o caso de Domingas, a faz-tudo da casa, sabia que aqueles dois não voltariam para os bons tempos.
Enquanto Yaqub se mostrava um ótimo aluno, principalmente no lado matemático, o caçula não parecia nenhum pouco interessado em nada disso, foi até mesmo expulso do colégio do qual frequentavam, por socar um professor.
Em seu último ano do colégio, Yaqub pediu aos pais uma farda de gala para poder desfilar no dia da Independência. Foi esta sua despedida, penso eu, à sua terra natal, já que logo depois ele arrumou suas coisas e decidiu partir de Manaus, iria para São Paulo para estudar os números que tanto gostava.
Já Omar, se mantinha alheio ao futuro promissor e posteriormente o sucesso do irmão. Vivia em festas, bares, se envolvendo com diferentes mulheres e sempre atoa. Até mesmo quando sua irmã mais nova, que agora ajudava a tomar conta da loja de seu pai, o chamou para trabalhar com ela, ele recusou.
É também nessa parte da história que nos é finalmente apresentado o nosso narrador, Majnun, filho de Domingas, que nos conta também sua infância e adolescência. Suas conversas com o pai dos gêmeos e como a intriga dos irmãos só se agravou conforme os anos se passaram.
"O que Halim havia desejado com tanto ardor, os dois irmãos realizaram: nenhum teve filhos. Alguns de nossos desejos só se cumprem no outro. Os pesadelos pertencem à nós mesmos."
Eu poderia continuar escrevendo o enredo todo, mas isso acabaria longo demais, isso porque o livro nos traz a história da vida de toda uma família! (risos)
Bom, eu confesso que empaquei bastante quando comecei a ler, até porque não sabia muito o que esperar do livro, honestamente, nunca fui tão chegada em romances brasileiros, mas acho que minha curiosidade pelo narrador da história foi o que me motivou bastante a continuar.
Majnun é filho de Domingas, que foi praticamente criada por Halim e Zana. Ela foi trazida por freiras e passou a ajudar com a casa, e logo quando os gêmeos nasceram, passou a ajudar também na criação deles. Quando nos é apresentado o narrador, acompanhamos seu crescimento e também seus pensamentos da época, suas dúvidas em relação aos gêmeos e principalmente sua dúvida em qual deles poderia ser seu pai.
"Cresci vendo as fotos do Yaqub e ouvindo a mãe dele ler suas cartas. Já Omar era presente demais, seu corpo sempre ali no alpendre num jogo entre a inércia da ressaca e a euforia da farra noturna."
Já nos fica claro no começo de que os irmãos não chegam a se entender em nenhum momento no final, mas devo dizer que fiquei surpresa em como a história termina. Para quem gosta de romances brasileiros ou para quem já chegou a ler a obra original, acho que vale a pena se aventurar pelos traços maravilhosos dos gêmeos. Até mesmo para quem não é fã do gênero, como é o meu caso, acho que o livro me cativou bem, talvez pelo fato de ser uma graphic novel, o que me facilitou a leitura (risos).
Em breve pretendo fazer a leitura da obra de Milton Hatoum e deixarei aqui minhas impressões sobre!
~Cedido pela Quadrinhos na Cia.~