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A Vida Secreta das Abelhas – Sue Monk Kidd

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Depois de ler o encantador A invenção das Asas, queria mais livros de Sue Monk Kidd. A Vida Secreta das Abelhas (Paralela, 256 páginas) veio em boa hora: é uma comovente história de busca, encontros e redenção.

Lily Melissa Owens tem 14 anos e mora com o pai, T. Ray, um homem frio e negligente, que a maltrata e castiga. Órfã de mãe desde os quatro anos, só encontra apoio e carinho em Rosaleen, a babá negra. Vive um eterno conflito pela ausência da mãe, morta após um tiro, que imagina ter partido de suas mãos, acidentalmente. Mas as lembranças são confusas e a dor que carrega é imensa.

"Quem acha que morrer é a pior coisa do mundo não sabe nada sobre a vida."

A trama se passa em 1964, numa pequena cidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, ano da conquista dos direitos civis. Nesse ambiente ainda marcado pela segregação racial, Rosaleen é espancada e injustamente presa após uma briga com homens brancos. Não suportando mais uma perda, Lily resgata a amiga e juntas fogem para a pequena Tiburon, uma cidade vizinha, onde a garota imagina conseguir decifrar o passado de sua mãe. Lá encontram abrigo na casa das irmãs Boatwright: August, June e May, mulheres negras independentes e criadoras de abelhas.

A identificação com aquelas mulheres é total: Lily sente-se em casa, amparada, enquanto August lhe ensina a criar abelhas e extrair o mel. Dessa relação tão próxima nasce um afeto legítimo, profundo, que há muito Lily buscava. Mas ela mentiu para as irmãs sobre a fuga com Rosaleen e, à medida que o tempo passa, sente-se pressionada para revelar seu segredo.

"Será que se eu contasse a May que T. Ray me fazia ajoelhar em grãos de milho, que fazia outras pequenas crueldades, que eu tinha matado minha mãe, ela sentiria tudo que eu tinha sentido? Eu queria saber o que acontecia se duas pessoas sentissem isso. A dor seria dividida pelo meio, seria mais fácil de suportar, da mesma forma que sentir a alegria de alguém parece tornar essa alegria maior?”

Em plena adolescência, os conflitos de Lily são acentuados pelos questionamentos que faz da vida. O maior deles é a necessidade de ser amada. A falta da mãe, a dúvida sobre o motivo de sua morte, a carência que crescera em seu peito na convivência com um pai tão rude e ausente. Ao lado das irmãs, mas especialmente com August, Lily descobre que é preciso perdoar, antes de tudo, a si mesma, para lidar com a dor e do sofrimento tirar lições valiosas. É muito bonito acompanhar o crescimento emocional de nossa protagonista nesse turbilhão de emoções, enquanto sente o coração bater mais forte pelo amigo Zach, garoto negro que sonha ser advogado.

"Olhei para ele, com ternura e tristeza, procurando entender o que nos tornava tão ligados. Seriam os sofrimentos dentro das pessoas que fazem com que se identifiquem, que criam uma espécie de amor entre elas?"

Um dos pontos fortes da leitura é apresentar uma sociedade dividida pelo racismo. E Lily sente na própria pele a crueldade do preconceito ao conviver com June, a irmã Boatwright que a rejeita por ser a única branca numa casa de mulheres negras. Outro destaque do livro é a religiosidade das irmãs, que são devotas de Nossa Senhora das Correntes, e manifestam ardentemente sua fé, transmitindo ensinamentos importantes para Lily. A nova crença preenche o vazio que sentia, trazendo um sentimento de esperança na vida e nas pessoas, uma força que a leva a enfrentar os próprios medos.

Em cada começo de capítulo há uma citação técnica relacionada à vida das abelhas, numa precedente menção ao que vamos ler. A vida das abelhas funciona numa sintonia perfeita, tal qual a convivência entre as três irmãs e as duas novas moradoras.

"Nós não podemos pensar em mudar a cor da nossa pele. É preciso mudar o mundo, é assim que devemos pensar", ele disse."

Os personagens são extremamente humanos, inseridos em momentos históricos importantes. Cada uma das mulheres da trama tem sua força e importância. A escrita madura me levou a crer que é uma Lily adulta quem escreve o livro, mostrando que as dificuldades enfrentadas são agora reminiscências de uma mulher que olha para trás orgulhosa do que a vida lhe ensinou.

"Você tem de encontrar uma mãe dentro de você. Todos nós temos de encontrar. Mesmo quem tem uma mãe precisa encontrar essa parte dentro de si mesmo. (...) Você não precisa pôr a mão no coração de Maria para ter força, consolo e salvação, e todas as outras coisas que precisamos ao longo da vida. Basta pôr a mão bem aqui no seu próprio coração. No seu próprio coração."

É uma leitura densa, não posso deixar de avisar. O texto de Sue Monk Kidd é sensível, aborda temas fortes como o racismo e a opressão, a dor da perda e a sensação de inadequação. Mas é uma história contada de forma delicada, triste em muitos momentos, mas imbuída de beleza e várias reflexões. Delicadezaé a palavra que define a escrita da autora.

Há um filme adaptado do livro, com o mesmo título, estrelado por Dakota Fanning, Queen Latifah, Alicia Keys e Jennifer Hudson.

Link do livro no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/3984ED443498

Classificação no Skoob: 5 estrelas e favorito.

Trailer do filme:

 
 
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Essa resenha foi escrita por Manuh Hitz, colaboradora do blog.
 
Facebook: https://www.facebook.com/manu.hitz.7?fref=ufi
 

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