Autora: Randy Susan Meyers
Editora: Novo Conceito
Ano: 2015
Sinopse: Cinco anos atrás...
Tia apaixonou-se obsessivamente por um homem por quem nunca deveria ter se apaixonado. Quando engravidou, Nathan desapareceu, e ela entregou seu bebê para a adoção.
Caroline adotou um bebê para agradar o marido. Agora ela questiona se está preparada para o papel de esposa e mãe.
Juliette considerava sua vida perfeita: tinha um casamento sólido, dois lindos filhos e um negócio próspero. E então ela descobre o caso de Nathan. Ele prometeu que nunca a trairia novamente, e ela confiou nele.
Hoje...
Tia ainda não superou o fim do seu caso com Nathan. Todos os anos ela recebe fotos de sua garotinha, e desta vez, em um impulso, decide enviar algumas delas para a casa do ex-amante. É Juliette quem abre o envelope. Ela nunca soube da existência da criança, e agora precisa desesperadamente descobrir quantas outras mentiras sustentaram o seu casamento até hoje.
Sinceramente, esse livro meio que me pegou de surpresa. Sabe o livro que você acaba escolhendo mais pela capa e não sabe muito o que esperar, pois não muito o tipo de leitura ao qual está acostumada? Então. Fui pega de surpresa quando me vi refletindo demais sobre o livro, marcando muitas coisas para ler e uma ansiedade enorme de começar a resenha para não perder as linhas de raciocínio que iam me atropelando enquanto eu lia.
Os capítulos do livro são divididos entre as personagens principais: Tia, Julliete, Caroline e Nathan (seus capítulos ficam mais pra o final). Cada uma delas tem seus demônios pessoais lhes dominando, corroendo todo seu comportamento. Por demônios, eu quero dizer cultura.
Cultura no sentido de ditador de comportamentos. Aquele que lhe diz como você deve se sentir, como você deve responder, como você deve se portar, etc. e que quando você age contra isso, é julgada... E seu pior algoz é você mesmo.
"- Você vai cuidar disso, não é?
Tia afundou na poltrona frente ao sofá.
- Cuidar disso?
- Claro, cuidar disso. - Ele fechou os olhos por um momento. Quando abriu, endireitou o corpo. - O que mais nós podemos fazer? O que mais faz sentido?"

Tia enfrenta uma situação complicada: ama um homem casado. Relaciona-se com ele sem se
importar com a família que ele já tem, afinal para ela eles ainda não existem, não fazem parte do que ela conhece realmente, só como uma história a qual ela nem quer saber, interessada apenas em ter sua própria família com Nathan. Mas ao mesmo tempo que deseja isso, sente vergonha do que faz, sabe que sua mãe religiosa a recriminaria se soubesse que ela está se envolvendo com um homem comprometido. Não só ela, como muitas outras pessoas da sociedade.
Ela não era tão jovem quando o conheceu, nem inocente. Era dona de seu dinheiro e de suas atitudes, mas ainda assim escolheu rumar por aquele caminho, arriscando-se pelo amor que sentia. Quando se viu grávida, viu ali a chance de ter Nathan com ela para sempre...
Mas, quebrando seu coração e seus sonhos, o homem amado a rechaça ao encarar a possibilidade de ter que abandonar a mulher com a qual é casada e os filhos que tem com ela.
Acreditando que não terá condições de cuidar da criança, Tia decide dá-la para adoção mesmo com os protestos de sua mãe, dizendo que ela se arrependerá amargamente disso no futuro. Mas como ela poderia viver o resto de sua vida olhando e cuidando de alguém que sempre lhe lembraria do amor tão dolorosamente perdido?
Escolhe um casal que acredita serem os melhores pais para sua criança, esconde a gravidez de todas as pessoas que conhece e só volta para os amigos e o trabalho depois de “recuperada”. Sua vida prossegue assim por cinco anos, lutando para esquecer o homem que lhe abandonou, desejando encontra-lo em cada esquina e bar que vai.
Durante cinco anos, ela vive uma semi-vida, sentindo-se incompleta. Como uma pessoa emocionalmente doente iria conseguir ter uma vida normal sem apresentar alguns momentos de insanidade e impulsividade?
"Ela se sentia como se sua vida tivesse se tornado uma série de compromissos que sempre tendiam para o lado da escala moral de Nathan Soros."
Julliete é a esposa de Nathan, a mulher traída que é a mãe e esposa perfeita. Teve uma criação exemplar, embora sua mãe tenha lhe criado para isso, ela não quer ser como sua mãe, ou que ela e Nathan sejam como seus pais: acredita que a casa estilo inglês deles é mais importante que a própria filha. Quando criança, era a extensão de beleza de sua mãe.
Ama o marido mais que a si mesma, ama seus filhos e sua família, mas sente-se culpada por não ter mais muito tempo em casa desde que começou uma empresa. Sua vida caiu em uma rotina corrida, mas isso não significa que os ame menos.
Ao descobrir-se traída, tenta entender a razão. O que Nathan não tinha, que precisou buscar em outra mulher? Quem era ela, como ela era, quantos anos... Quis saber de tudo, tomou dele uma promessa de que aquilo nunca mais aconteceria e lutou para manter seu casamento. Mesmo remoendo-se por dentro. O que havia feito de errado para Nathan ter um caso? Por quê?
Quando descobre que há uma criança envolvida, toda a desconfiança volta e, mais uma vez, a culpa de seu relacionamento não dar certo cai em cima dela.
Vamos analisar primeiro essas duas pessoas. Mulheres. Envolvidas com o mesmo homem. E a culpa é somente de quem, o tempo todo? Delas. Tem ciúme uma da outra, desejam o que a outra tem: a família, a juventude, o corpo bonito e bem cuidado. Tem raiva uma da outra. São inimigas. Por causa de um homem. E, se uma se deixou encantar pelo homem casado, a culpa dela. Se a esposa não conseguiu dar tudo o que o marido precisa a ponto de ir buscar em outro lugar, a culpa é dela.
Alguma ligação com o que se tem discutido hoje em dia? Feminismo. Culpabilidade da vítima.
Não estou defendendo a Tia em, mesmo sabendo que Nathan era comprometido, decidiu que iria toma-lo para si. Mas é o que minha mãe sempre diz: quando um não quer, dois não fazem. Nathan sabia de sua responsabilidade e ainda assim deixou-se levar pelo caso a ponto de dizer que amava Tia apenas para continuar com o sexo. Quando precisou provar que o amor era verdadeiro, deu o fora e deixou-a cuidar sozinha das consequências dos atos de ambos.
Aqui podemos fazer outro parênteses: se existe mãe solteira é porque muitas vezes os homens não assumem o seu papel de pai. Tanto que se a mulher engravidar, fudeu, né?
Okay, vamos continuar.
..."A vida doméstica era obscura, e aquilo ameaçava carregá-la para baixo permanentemente. Todas as manhãs, ela acordava para desempenhar um papel mal resolvido até que chegasse ao hospital."
Caroline é a mulher atual: a independente que tem uma carreira de sucesso, um marido que lhe ama com uma carreira também de sucesso, são financeiramente estáveis. E não podem ter filhos. Peter, o marido, cresceu em uma família grande e pobre, mas não lhe faltava nada em casa. É o orgulho de sua mãe.
Caroline é rica, teve uma infância aparentemente isolada por ser antissocial. E não deseja ser mãe.
Qual é o crime?
Seu marido quer uma família grande.
Então encontram uma criança para chamarem de sua.
Caroline não consegue ser mãe. Acredita que não nasceu para ser mãe. Que não tem dom para isso,
ama sua carreira. E ter que voltar para casa, deixar o trabalho que ama para cuidar de uma criança é um sacrifício.
E como uma mulher não quer ter filho!? Ela tem que ter pelo menos um! E se por um acaso ficar sozinha, quem vai cuidar dela?! Ela tem que experimentar a magia de ser mãe, a magia do parto. É um absurdo, pois as mulheres nascem para ser mãe! Podem ser médicas, aeromoças, pedreiras, engenheiras, químicas... Mas tem que ser mãe também!
E tudo piora quando por alguma razão fisiobiológica elas não conseguem ter filhos. É uma mulher falha. É culpa sua o casal não poder ter um filho. Então vem a questão da adoção: não é um filho que foi gerado por você, e sabe-se o quão importante isso é para desenvolver o papel de uma mãe. Assim, a criança só vira seu filho a partir do desejo. Do amor que você vai sentindo conforme sua barriga cresce, é assim que você vai tomando a realidade e a dimensão de que está tendo um filho.
E quando ele não foi gerado por você? Existe o desejo, mas não essa fase. Como se pode amar plenamente uma criatura que você não viu crescer dentro de si? A culpa que tais pensamentos geram é um fator enorme de estresse para mães adotivas, pois escutam o tempo todo: é igual a um filho criado dentro de você, isso passa, dê tempo ao tempo. Se você comenta suas dúvidas com alguém, é dada como fria e desalmada. O emocional da mãe adotiva pode não aguentar tais julgamentos...
..."Não que a culpasse por isso. Mas seu pai continuou sendo o centro do mundo para sua mãe, mesmo depois de ela ter aberto espaço no pedestal para Nathan, e ele achava que seu casamento seria assim."
Nathan... Bem, ele é a chave que uniu as três mulheres sem o conhecimento da mesma. Um professor de faculdade que precisa da admiração de seus alunos para que seu ego continue firme, sólido.
Ama sua esposa, mas sua autoestima precisa de mais. É aí que surge Tia, uma jovem recém formada faminta por tudo o que ele tem a oferecer: seu corpo, suas palavras seu conhecimento. Ela não fica entediada com suas explicações e sempre está disponível para ele. Até que a presença dela em sua vida coloca em risco a família amada já construída dele.
Enquanto ela passa cinco anos o procurando com o canto dos olhos por todos os locais, ele praticamente esquece de sua existência.
A maior reflexão surgiu dele. Das mentiras confortáveis que contou para si mesmo durante tantos anos, apenas para continuar vivendo tranquilamente, livrando-se das preocupações que seu ato podem ter causado.
Mas ele esquece que uma mentira nunca anda sozinha, sempre tem uma consequência. Especialmente quando ela é descoberta. Acho que o pior não é saber que foi uma mentira, mas sim saber que a pessoa não confia em você o suficiente para saber a verdade. Que você desejou enganá-la. Não há nunca uma boa intenção por trás de uma mentira.
E essa é toda a questão do livro, como as mentiras que nos contamos influenciam não só nossas vidas, mas também as pessoas que nos cercam. Tudo porque às vezes não conseguimos encarar a nós mesmos e nossos atos, a pessoa a qual estamos nos tornando. Vendamos nossos próprios olhos somente para não termos que nos preocupar com isso; idealizamos as pessoas e tentamos fazer delas aquilo que queremos que sejam.
Esse livro é um banho de reflexão. Muito bem escrito, com personagens interessantes que podem ser representações de muitas pessoas que conhecemos. É uma leitura extremamente válida, se você quer algo para te ajudar a rever alguns conceitos.