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Esta Terra Selvagem - Isabel Moustakas

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"João é um repórter policial de um grande jornal paulistano. Aos trinta e dois anos, já coleciona um casamento fracassado e ainda não fez nada de muito grandioso na profissão. Mas o envolvimento na investigação de um crime hediondo irá transformar sua vida de modo devastador. Uma jovem que assistiu à tortura e ao assassinato brutal dos pais - um boliviano e uma descendente de italianos -, e que depois fora abusada das piores maneiras, ainda não havia falado com a imprensa. Sete meses após esses crimes, João é o primeiro jornalista a ouvir o relato de cada detalhe perturbador do que ela havia presenciado. Ao final do depoimento, a garota tira a própria vida diante dos olhos dele.


A partir deste terrível episódio, o repórter irá seguir pistas que o levarão a um suposto grupo racista que vem cometendo atrocidades contra imigrantes, negros, judeus, nordestinos, gays e quaisquer pessoas que considera impuras. O pouco do que se sabe sobre eles é que usam coturnos pretos com cadarço verde-amarelo."

Recentemente iniciei minha saga entre os escritores nacionais, terreno desconhecido por mim até então. Esta Terra Selvagem, romance de estréia de Isabel Moustakas, pareceu - e foi - uma boa escolha para continuar essa jornada pessoal.

Em Esta Terra Selvagem, o protagonista João está em busca de um furo jornalístico que possa levar sua carreira à ascensão. Sua grande oportunidade aparece quando Marta, a garota cujos pais foram torturados e assassinados por uma gangue racista, xenófoba e homofóbica 7 meses antes, finalmente resolveu falar com a imprensa e escolheu João para ser ouvinte de seu relato assustador. 

"Por fim, passado um longo momento, Marta me encarou e disse:

- Pode fazer o que quiser com isso que te contei. Eu não tenho mais nada pra dizer.
Então pegou a faca e enfiou com toda a força no próprio olho direito."

Então, munido das informações fornecidas por Marta antes de seu desfecho triste e horripilante, João sai ao encalço dos homens doentios que não cometeram apenas este crime, mas estavam agindo em toda a cidade de São Paulo numa ação coordenada visando "higienizar" a nação de nordestinos, homossexuais, imigrantes, negros e todos aqueles que eram considerados "impuros" por eles. A narrativa desta perseguição é feita impecavelmente pela autora que, com um estilo próprio, usando frases curtas e impactantes, dá um ritmo acelerado e intenso. Além do mais, é um dos poucos livros que consegue reproduzir fielmente a estrutura da língua falada, o que é raro até mesmo dentre as obras brasileiras.

São 112 páginas que passaram mais rápido do que deveriam. Ao terminar a leitura, fiquei com a sensação de que faltou espaço, muito espaço. Para caber em tão poucas páginas, o mistério - e os detalhes necessários para levar a ele - foi deixado de lado. É um livro surpreendente, confesso, mas a ausência de suspense foi marcante para mim. A todo momento, você sabia quem era o vilão, quem estava enganando quem; poucos são os momentos em que você é pego de surpresa - e eu senti falta disso durante a leitura. Entretanto, creio que isso possa ser creditado ao meu costume de ler livros bem mais longos (e 112 páginas não é naaada longo, certamente).

Em resumo, é um livro curto, com uma narrativa ágil, cenários dantescos e uma temática atual que mostra-se cada vez mais relevante numa época onde, por dia, milhares de pessoas morrem por sua religião, cor ou naturalidade. Esta Terra Selvagem foi uma leitura rápida e envolvente, quem se interessar em lê-lo deve saber que não há tempo para respirar: é um livro pra ser lido em um fôlego só.

Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 978-85-359-2689-7
Ano: 2016
Páginas: 112

OBS:O livro veio autografado e eu achei um mimo (é fácil me ganhar)! Muito atencioso da parte da escritora; obrigada, Isabel!

Resenhado por:Aryanna Florentino Peixoto


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