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FAROESTE CABOCLO

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Direção: René Sampaio, 2013.
Elenco: Fabrício Boliveira, Isis Valverde, Felipe Abib, Antônio Calloni, Marcos Paulo, César Troncoso, Flávio Bauraqui

ATENÇÃO: CONTÉM SPOILERS! Se você ainda não assistiu ao filme, prossiga por sua conta e risco.
Sinopse

Baseado na canção de mesmo nome da lendária banda brasiliense de rock, a Legião Urbana, este longa retrata a saga de João de Santo Cristo, o menino pobre que veio do nordeste para se tornar o maior anti-herói do Planalto Central.



Resenha

Não importa se você gosta ou não da Legião Urbana, talvez a banda de rock de maior projeção já produzida pelo Distrito  Federal. O fato é que, com toda certeza, todos conhecem a canção Faroeste Caboclo (o terror dos músicos de barzinho rsrsrs), aquela com quase 10 minutos de duração, que mistura rock, reggae e baião, e que conta a fictícia (que poderia muito bem ser verídica) estória de um personagem tipicamente brasileiro, fruto da miséria, do analfabetismo, do descaso do Estado e da violência do meio em que foi criado.

Bem me lembro, lá nos idos de 1987, eu então com quase 10 anos de idade, assistindo ao programa Globo de Ouro (é gente, eu sou velho hahaha), quando o Legião subiu ao palco pra tocar aquela canção do álbum Que País É Esse... Logo nos primeiros versos da música, meu pai apressou-se em mudar de canal. Diante do meu protesto, ele justificou: “Isso não é música pra você.” Tal fato apenas me deixou mais curioso.... Quero dizer, o cara começou a cantar uma estória ali! E, custasse o que custasse, eu iria saber como ela terminaria. Me lembro de comentar sobre a música na escola com um amigo, no dia seguinte. “Meu irmão tem o disco! Se você quiser, dá pra gente ouvir lá em casa. Mas tem que ser à tarde, na hora que ele estiver trabalhando. ” E completou “Ele é babaca, não vai deixar a gente ouvir se ele estiver lá. ” Rsrsrs... E assim foi. Dei uma desculpa qualquer pra ir à casa do meu amigo na parte da tarde (período em que minha mãe me fazia estudar) e lá fomos nós ouvir a tal música. Depois daqueles quase 10 minutos de perder o fôlego e, mesmo sem entender tudo o que foi dito (éramos crianças e naquela época ainda havia inocência em moleques de 10 anos), a primeira coisa que pensei foi: “Cara, imagina o filmão que daria essa música! ”

Perdão pela divagada. Com vocês, a saga de João de Santo Cristo.  



TEMPORALIDADE

A trama acontece durante os anos 90, período em que Faroeste estourou nas rádios do Brasil.

PERSONAGENS

João (Fabrício Boliveira), um menino negro e pobre do interior da Bahia, vê seu pai ser assassinado sem motivo algum por um policial. Agora órfão, João planeja ir embora da cidadezinha em que nasceu, não sem antes vingar-se daquele que tirou a vida de seu pai, matando-o. Pelo crime, João acaba recolhido a um reformatório e, tão logo tenha alcançado a liberdade, colocou em prática seu plano, tendo o destino feito com que ele fosse parar em Brasília, onde realmente começa a escalada de infortúnios que o lavarão a um amor conturbado, uma vida de crimes e a um trágico fim.



Chegando em Brasília e, após uma temporada trabalhando como carpinteiro, João logo encontra um parente distante, Pablo (César Troncoso), um peruano que trazia drogas da Bolívia, mas que tinha planos para começar a plantar maconha aqui mesmo, no Brasil. João lhe pareceu o parceiro perfeito.



Quis o destino que João conhecesse Maria Lúcia (Isis Valverde), retratada no longa como uma menina rica, filha de um importante político. Os dois se apaixonam e, obviamente, devido à sua origem, sua cor e suas atividades como traficante, João experimenta o ódio e o preconceito da família da moça, o que tornaria o amor dos dois quase impossível.



João então concentra seus esforços na parceria criminosa com seu primo Pablo, o que atrai a atenção indesejada de outro traficante: Jeremias (Felipe Abib). Este, diferente de João, pertence à alta classe brasiliense e também cobiçava a jovem Maria Lúcia. Não demorou até que, a fim de eliminar seu rival, Jeremias armasse uma armadilha para João, fazendo com que o mesmo fosse estuprado e posteriormente preso.



O FAROESTE

Neste ponto da trama, todos os elementos de um faroeste estão presentes: Os bandidos inimigos duelarão pelo domínio do tráfico mas, principalmente, pelo amor da mocinha.



É também neste ponto da estória onde, na minha opinião, se exacerbam as discrepâncias com o texto original.

Ora, todo mundo sabe que Maria Lúcia traiu a confiança de João ao DELIBERADAMENTE casar-se com seu pior inimigo enquanto seu grande amor tentava se livrar de uma vida de crimes e retomar sua vida de carpinteiro. No entanto, não é assim que que a treta é retratada no filme, onde Maria teria sido meio que obrigada por seu pai a se casar com Jeremias, o que muda seu status original de traidora (na música) para mocinha oprimida pelos machões da trama.

Ok, o diretor acabou deixando de fora muitas passagens da música, bem como inseriu alguns fatos que não existem no texto original, a fim de fazer uma adaptação convincente. Isso fez de Faroeste Caboclo um filme bacana, mas que não convenceu a quem, como eu, veio dos anos 80 com a canção já sacramentada na cabeça.

Quer exemplos? Ora, o que fizeram com o “boiadeiro”? Quero dizer, quem conhece a música sabe que se não fosse um tal boiadeiro que “tinha uma passagem, ia perder a viagem, mas João foi lhe salvar”, João jamais teria ido parar em Brasília, pois não tinha dinheiro pra ir a lugar algum e, numa grande coincidência (se é que existe tal coisa), acabou ganhando uma passagem de um desconhecido que encontrou na rodoviária! Essa passagem da estória deveria ter sido retratada e reconhecida como ponto chave da saga. Mas optaram por suprimi-la, sabe-se lá porque.

Noutro momento do texto original, João é procurado por “um senhor de alta classe com dinheiro na mão”. Não fica totalmente claro, mas dá a entender que João começa a ser procurado para cometer crimes de natureza política. De novo, quem está careca de conhecer a estória sabe que foi nesse momento que João resolve repensar sua vida de crimes voltando a trabalhar como carpinteiro, fato que aparentemente o leva a ser abandonado por Maria Lúcia, que foi se refugiar nos braços do pior inimigo de João. Esta passagem (que eu considero crucial para o desfecho da estória) também foi deixada de lado pela direção.

Com exceção destes dois momentos que me deixaram um pouco desapontado, no mais, o filme até me arrancou algumas lágrimas, já que é a materialização de um hino da minha adolescência em forma de película. Cito como exemplo o momento em que João chega à Brasília e olha admirado, pela janela do ônibus, as luzes de natal.... Ou a icônica hora em que seu primo Pablo o presenteia com uma Winchester 22, rifle típico dos melhores clássicos de Bang Bang   =´)


  
CONCLUSÃO

Bem, partindo da premissa de que todo mundo já ouviu essa música pelo menos uma vez na vida, acho que todos sabem a forma trágica como termina a sua estória. E muito embora hoje em dia sejam raras as vezes em que eu me pegue ouvindo Legião Urbana (tenho uma pasta no pendrive do carro), Faroeste Caboclo até hoje impressiona, não só por ser um clássico do rock nacional, mas por ser fruto da genialidade do grande Renato Russo...


Até a próxima, gente!



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