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{Resenha} Caviar é uma ova

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Autor: Gregorio Duvivier
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2016
Sinopse: Com o acirramento da disputa política no Brasil, a expressão “esquerda caviar” ganhou popularidade. Se alguém defendia os mais pobres, mas não tinha dificuldades financeiras, lá vinha o rótulo. Gregorio foi um alvo exposto a esse tipo de crítica, que vicejou em blogs de direita e se espalhou pela internet. Mas as crônicas aqui reunidas não se esgotam na combatividade política. Elas são também líricas, bem-humoradas, experimentais e até mesmo declarações de amor. Não é para qualquer um. Caviar, afinal de contas, é mesmo uma ova.

Resenha:

“Pra começar, caviar não me representa – nunca vi nem comi, só ouço falar. Caviar é uma ova – literalmente. Entendo a metáfora, mas acho que não se aplica a essa nova esquerda hipster que vocês tanto odeiam. Melhor seria Esquerda Maionese Trufada. Esquerda Cerveja Artesanal. Esquerda Bicicleta de Bambu. Aí sim: esse cara sou eu. Ou, pra ser sincero, nem assim.”

Conheci Gregorio Duvivier através do Porta dos Fundos, acho que como a maioria das pessoas. Sempre o achei ótimo ator e humorista. A partir daí comecei a acompanhá-lo, e assim conheci seu trabalho como cronista. Hoje, ele assina uma coluna semanal na Folha de São Paulo, e suas crônicas têm temas variados, como memórias de infância, artigos de opinião, militância política, e por que não? Gregorio também fala de amor.

Não posso dizer que concordo 100% com todas as suas opiniões, mas admiro a forma como ele fala a respeito, a liberdade com que ele se permite usar as palavras para se posicionar de forma consciente e inteligente sobre tudo à sua volta. Além disso, também admiro a forma com que ele responde às críticas direcionadas a eles. Gregorio parece não estar “nem aí” e usa seu (bom) humor para rebater tudo o que é dito sobre ele.

Irônico, sarcástico e algumas vezes até um pouco cínico, Gregorio escreve sem papas na língua. Suas crônicas fazem crítica à uma sociedade com a qual ele não concorda, mas ao mesmo tempo falam sobre o que ele vê, pensa e também sobre o que sente.

“Qual é o papel do opressor na luta do oprimido? Não faço a menor ideia – mas a discussão me fascina. Suspeito que a palavra-chave seja empatia. Sentir dor pela dor do outro é o que nos faz humanos – também é o que nos faz ser chamados de hipócritas, demagogos, esquerda-caviar. Humanidade é um crime imperdoável.”

Em uma das crônicas desse livro, Gregorio escreve um verdadeiro dicionário de expressões criadas por ele mesmo para definir coisas que só ele mesmo pode explicar. Em “Neologismos”, aprendemos novas palavras (autofobia, desmagrecer, eutílico) e os significados criados pela mente (meio perturbada) do autor.

Em outra crônica, ele revela como aprendeu a lidar com as diferenças, começando com seu irmão, que sofre da Síndrome de Apert, uma doença rara que afeta a forma de crescimento do crânio do bebê, trazendo outros sintomas e anomalias. Sua mãe escreveu um livro sobre isso, chamado O que é que ele tem?, que foi a pergunta que o próprio Gregorio fez para ela, depois de tanto ouvi-la e não saber a resposta.


“Aprendi com minha mãe o contrário do que os pais costumam ensinar aos filhos: a apostar no amor em detrimento de qualquer coisa. Não em qualquer amor, mas no amor mais difícil, e no mais raro, que é o amor pela diferença. Não confundir com deficiência.”

Por último, mas não menos importante, a crônica que mais teve visualizações, compartilhamentos e que influenciou milhares de pessoas a procurarem seu (sua) ex. Em "Desculpe o transtorno, preciso falar da Clarice", Gregorio fala de como conheceu sua ex, Clarice Falcão, e sobre todas as coisas boas que viveram juntos. Tantas pessoas interpretaram como um pedido de volta, que mais uma vez me vi questionando a interpretação de texto do brasileiro. Novas crônicas foram escritas, defendendo Clarice de uma possível exposição exagerada, que em momento algum me pareceu a intenção do autor.

Na minha opinião, Gregorio apenas escreveu sobre uma fase importante de sua vida. Um amor tão grande, tão pleno, tão feliz, mas que como tantos outros, também chegou ao fim. Em momento algum o autor diz querer voltar. Simplesmente se sente feliz por ter vivido algo com tamanha intensidade, e que gerou bons e eternos frutos.

“Essa semana, pela primeira vez, vi o filme que a gente fez juntos – não por acaso, uma história de amor. Achei que fosse chorar tudo de novo. E o que me deu foi uma felicidade muito profunda de ter vivido um grande amor na vida. E de ter esse amor documentado num filme – e em tantos vídeos, músicas e crônicas. Não falta nada.”
Se você, como eu, também é fã do trabalho ou gosta das crônicas de Gregorio Duvivier, posso garantir que a escolha delas para este livro foi feita com muito carinho e cuidado, trazendo ao leitor uma seleção de seus melhores textos. Recomendo!

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